browser icon
You are using an insecure version of your web browser. Please update your browser!
Using an outdated browser makes your computer unsafe. For a safer, faster, more enjoyable user experience, please update your browser today or try a newer browser.

Jogos mortais

Posted by on 25/05/2014

Nosso primeiro objetivo é o de impedir o ressurgimento de um novo rival, seja no território da ex União Soviéticaou na China, que seja uma ameaça do quilate daquela colocada anteriormente pela União Soviética. Essa é uma preocupação constante subjacente à nova estratégia de defesa regional e exige que procuremos impedir que qualquer poder hostil domine a região cujos recursos poderiam, sob um controle consolidado, ser suficientes paragerar poder global.

Paul Wolfovitz, intelectual neoconservador responsável pela doutrina militar e de política externa dos Estados Unidos

            Prezados leitores, desde que teve início o embróglio na Ucrânia, houve uma constante na imprensa internacional: todos os veículos de comunicação no Ocidente repetiram em uníssonoa versão que os ucranianos estavam lutando pela liberdade para livrarem-se do jugo da Rússia. Nessa luta seriam com certeza ajudados pelas forças do bem, lideradas pelos Estados Unidos, que se destacam no cenário mundial na sua luta pela democracia e contra o autoritarismo e o terror.As forças do mal são sempre os países que se opõem aos desígnios americanos, países descritos como autoritários, em que a liberdade de expressão é limitada e o governo oprime minorias étnicas, de gênero e outras.

            Não me canso de utilizar este meu humilde espaço para apontar as inconsistências dessa versão “James Bond” do cenário mundial. Os Estados Unidos acusam a Rússia de invadir a Ucrânia e anexar a Crimeia, mas reserva-se o direito de invadir o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, o Iêmen, Síria, Paquistão, para ficarmos apenas nos alvos estabelecidos pelos neoconservadores desde o governo de George Bush. Os Estados Unidos acusam a China de ser um país autoritário, mas a China com uma população quatro vezes maio do que a americana, tem menos pessoas na prisão. Os Estados Unidos vangloriam-se da sua liberdade de expressão, mas perseguem implacavelmente aqueles que ousaram revelar secredos inconfessáveis, como Julian Assange, que não pode sair da Embaixada do Equador,e Edward Snowden, que vive escondido na Rússia, deois de ter tentado obter asilo em países europeus e sul-americanos, a maioria dos quais o renegou como a um leproso, por medo de desagradarem o Tio Sam.

            Nesse desenrolar de um roteiro double-oh-seveno vilão é sempre Vladimir Putin. Semana sai semana entra e há sempre um artigo falando como a política de Putin será um tiro pela culatra devido à má situação econômica da Rússia, como a prepotência de Vlad vai levar o país ao isolacionismo e à falência, como há fuga de capitais, como as sanções do Ocidente vão colocar a Rússia de joelhos. Nasemana que passou o Príncipe Charles da Inglaterra comparou-o a Hitler, devido aos seus desejos expansionistas e talvez devido à perseguição às minorias gays. Charles às vezes é criticado quando dá seus palpites arquitetônicos sobre os horrorosos projetos residenciais do governo britânico, mas quando fala aquilo com o que os dirigentes do seu país concordam em gênero, número e grau, seu direito de emitir opiniões políticas é louvado, a despeito de o chefe de Estado na Inglaterra deverser uma figura decorativa, por ordem do Parlamento.

            Tudo isso são meias verdades. É verdade que Putin não quer normalizar o homossexualismo, torná-lo parte davida cotidiana dos russos e defende uma visão tradicional de família que está decididamente sendo descartada no Ocidente. Recentemente a Rússia assinou um tratado de adoção internacional com a Espanha pelo qual fica proibida a adoção de crianças russas por famílias monoparentais ou homossexuais. E é verdade também que os Estados Unidos tem um poder imenso de infligir danos aos seus desafetos, porque controla o sistema monetário internacional por meio do dólar, que continua a ser a principal moeda dastransações internacionais. No entanto, pouco a pouco parece estar havendo uma mudança de paradigmas e o script do filme terá que ser reescrito.

                Um fato que passou despercebidona nossa imprensa foi o acordo assinado entre China e Rússia sobreo fornecimento de 38 bilhões de metros cúbicos de gás natural à China no valor de 400 bilhões de dólares. O acordo passa a vigorar a partir de 2018 e vai incluir grandes obras de engenharia para ligação dos campos de gás russos aos gasodutos chineses. A China vai investir cerca de vinte bilhões de dólares na indústria russa e aumentar a importação de produtos russos, especialmente sistemas militares. No Brasil este acordo foi descrito como uma tentativa de Putin de tirar seu país do isolacionismo. Na verdade, pode significar uma mudança de paradigmas, o marco da mudança do eixo econômico mundial do Ocidente para o Oriente, com a união de esforços e de interesses dessas duas potências terrestres. O problema de tal aliança estratégica é que com certeza ela será mal vista pelos Estados Unidos, que tentarãosolapar qualquer desafio à sua hegemonia. Tratando-se de três países com arsenal nuclear, poderemos ter uma guerra que acabaria com a vida na Terra. Esperemos o desenrolar dos acontecimentos e que o meu pessimismo seja derrotado.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *