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Alvíssaras?

Posted by on 31/12/2014

Acreditamos que a Rússia tem oportunidades e conhecimento para superar os problemas atuais da sua economia. As relações entre a China e a Rússia de parceria estratégica realizam-se em alto nível, estamos sempre apoiando e ajudando nosso amigo. Caso os russos precisem, ofereceremos todo o apoio possível que esteja ao nosso alcance.

Palavras do Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em uma entrevista ao canal de televisão de Hong Kong Fenghuang em 21 de dezembro

A Rússia e a China terão um efeito significativo sobre o sistema das relações internacionais como um todo. Essa relação será um fator determinante da política mundial e afetará a arquitetura contemporânea dessas relações …. A Rússia e a China nunca tiveram relações militares tão sólidas como agora. Foram realizados exercícios militares conjuntos no mar e na terra tanto na China quanto na Rússia.

 

Palavras de Vladimir Putin citadas no site de notícias da BBC em 17 de abril deste ano

            Prezados leitores, este ano tão curto está chegando ao fim. Digo curto não porque ele teve menos do que 365 dias, mas porque a impressão que 2014 deixou foi de ter sido menor do que os outros anos pelo fato de para nós brasileiros ter sido cheio de acontecimentos. No primeiro semestre a Copa foi o foco das nossas atenções, tanto para seus detratores como eu, como para os entusiastas. Não houve caos nos aeroportos, acidentes nos estádios, tudo funcionou mais ou menos como os estrangeiros esperavam, afinal eles não vieram aqui atrás de organização e pontualidade, vieram atrás de alegria, diversão, tropicalidade. Por outro lado, houve o 7 a 1, que selou de vez  uma percepção que antes havia permanecido vaga de que não temos mais o melhor futebol do mundo. A esse respeito 2014 poderia ter sido bem pior se Pelé tivesse morrido no Hospital Albert Einstein de onde teve alta em 9 de dezembro após ficar duas semanas internado. A morte do maior orgulho futebolístico do Brasil teria sido o coroamento da desgraça da nossa decadência no esporte. Mas felizmente Pelé safou-se e saiu todo lampeiro, falando em inglês “Don’t worry”.

            Passada a Copa, que para nós deixou saudades pelos feriados a perder de vista e pelo frenezi das apostas, vieram as eleições presidenciais no segundo semestre que galvanizaram as atenções mais pelos ataques mútuos entre os candidatos do que pelo embate de ideias. Enfim, os resultados saíram em outubro e tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes. 2014 será um ano memorável pelas fortes emoções que trouxe a nós brasileiros cheios de expectativas e angústias sobre quem seria o campeão do mundo de futebol e quem seria o próximo presidente do país. Nesse sentido, 2015 nada promete em termos de grandes acontecimentos, mas tal percepção pode mudar a depender do ponto de vista.

          De fato, o Brasil está no Hemisfério Ocidental e por mais que tenhamos nossas rusgas com os Estados Unidos acabamos olhando o mundo com um olhar que é em grande parte emprestado dos ianques. Se mais não fosse porque nossa imprensa reproduz a pauta de prioridades da imprensa americana, porque assistimos a filmes de Hollywood e porque nosso sonho de viagem internacional é Nova York ou Miami. Esse olhar é capaz de contar uma história do que se passou no ano na cena internacional e dos desdobramentos desses acontecimentos em 2015.

            À parte os ataques terroristas que pululam por aí e a guerra na Síria, a grande disputa deu-se pela Ucrânia. Já falei aqui algumas vezes sobre esse episódio, portanto não pretendo aqui descer aos detalhes, apenas resumir a versão ocidental dessa disputa, corroborada pelos jornais, revistas, noticiário de TV e pelos comentaristas especializados. Os ucranianos queriam livrar-se do seu presidente corrupto, Viktor Yanukovych, apoiado pelo líder autoritário da Rússia, Vladimir Putin, e foram às ruas para lutar pela democracia. Depois de apanharem muito da polícia conseguiram mandar Yanukovych às favas em fevereiro e elegeram um novo governo liderado por Petro Poroshenko, favorável à aproximação com a União Européia e a OTAN. Nesse ínterim, Putin, apoiando-se em um referendo duvidoso, anexou a Criméia à Rússia, incluindo o porto de Sevastopol, e tem dado ajuda militar aos rebeldes do leste da Ucrânia, que querem se separar. Em 17 de julho esses militantes derrubaram um Boeing da Malaysia Airlines com um míssel Buk, matando as 298 pessoas a bordo. Os países ocidentais, indignados com tal atrocidade, começam a impor sanções econômicas e políticas contra a Rússia para obrigá-la a rever suas intenções de reconstituir o império soviético, incluindo a proibição de acesso a mercados de capital, ao que Putin responde banindo importações de certos produtos.

            A disputa teve um novo pico em dezembro, quando houve um ataque especulativo contra o rublo, fundado nas baixas expectativas de crescimento econômico no próximo ano,  que fez com que as reservas da Rússia caíssem abaixo de 400 bilhões de dólares, número recorde desde agosto de 2009, para que o governo pudesse manter o valor da moeda nacional. De acordo com tal narrativa, qual o cenário provável para a economia russa? Inflação, recessão devido à queda dos preços do petróleo, e uma diminuição da credibilidade do líder autoritário e corrupto, o que pode levar inclusive a uma mudança de regime. Em suma, 2015 promete a derrocada da Rússia.

            E, no entanto, uma outra história é contada no Oriente, uma história em que China e Rússia são ambas vítimas das maquinações americanas, do esforço sem tréguas dos líderes do chamado mundo livre de destruir qualquer possibilidade de desafio ao seu poder econômico e político. Sob essa perspectiva, o estabelecimento da democracia na Ucrânia é apenas uma desculpa para invadir a esfera de influência geopolítica da Rússia e rodeá-la de mísseis, em clara violação ao acordo feito com Gorbatchev para o fim da Guerra Fria. Da mesma maneira, os protestos em Hong Kong, insuflados por NGOs financiadas pelos ocidentais, é apenas uma cortina de fumaça para tentar desestabilizar o governo de Beijing. Tendo percebido que não adianta tentar soluções diplomáticas com a Europa a respeito da crise na Ucrânia, porque os países europeus são Estados vassalos dos Estados Unidos, Vladimir Putin decidiu preparar-se para o confronto inevitável, e estabeleceu uma firme parceria econômica, política e militar com a China para juntarem esforços contra o inimigo comum, o Ocidente, que quer ver ambos os países de joelhos, desculpando-se por serem autoritários e por calarem a dissidência em nome da estabilidade. A ordem do dia para os dois países é ajudarem-se mutuamente para fortalecerem-se de maneira que possam fazer frente aos ataques dos países ocidentais. A corrida contra o rublo já mostrou que chumbo grosso vem pela frente. Em 26 de dezembro Putin anunciou que a Rússia agora considera-se ameaçada em sua soberania pela OTAN e pelos Estados Unidos pela instalação de mísseis anti-balísticos em países que fazem fronteira com ela. Por isso, está atualmente desenvolvendo dois mísseis intercontinentais e em 2016 instalará um novo sistema de defesa.

            Prezados leitores, de acordo com essa história alternativa de 2014 e das perspectivas para 2015, teremos no plano internacional, um ano em que o conflito China-Rússia versus OTAN e Estados Unidos tornar-se-á mais grave e pode levar ao uso de armas nucleares, tudo vai depender do nível de provocação de ambos os lados da contenda. Se para nós brasileiros 2015 só promete más notícias econômicas, coisa com a qual os maiores de 40 anos já estão acostumados, sem a fanfarra e excitação de 2014, no mundo das relações internacionais poderemos ter certas definições que colocarão o futuro da humanidade em perigo. Alvíssaras? Depende do ponto de vista.

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