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Superpoderosas e Superbonitas

Posted by on 30/08/2015

“[…] Uma mulher deve ter um amplo conhecimento de música, canto, desenho, dança e línguas modernas para mercer o título de mulher; e além de tudo isso, ela deve possuir algo em sua atitude e maneira de andar, o tom da sua voz, seu porte e expressão, ou do contrário o nome de mulher não será inteiramente merecido.” “Tudo isso a mulher deve ter”, acrescentou Darcy, “e a tudo isso deve ser adicionado algo mais substancial, o aprimoramento da mente por meio de extensa leitura.”

Trecho retirado do livro “Orgulho e Preconceito”, da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817)

Na cidade maranhense de Bom Jardim, a prefeita, foragida, é acusada de desviar dinheiro da merenda escolar para bancar plásticas e carrões. O caso expõe a ineficiência da fiscalização nas contas dos municípios.

Trecho retirado do artigo “Prefeita Ostentação” publicado na revista Veja de 2 de setembro

O plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (25), em primeiro turno, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece cotas para mulheres nas eleições para deputado federal, estadual e vereador. […] O texto prevê percentual mínimo de representação de cada gênero na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa do Distrito Federal e Câmaras Municipais.

Retirado do site “Ceticismo Político”

    Prezados leitores, o Maranhão realmente nunca deixa de nos brindar com espécimes emblemáticas, que simbolizam tudo o que há de ruim com a política nacional. Não preciso citar aqui os marimbondos de fogo da família Sarney, que espalharam-se por todo o Brasil, chegando em bandos a Brasília, capitaneados por José Sarney, presidente da República de 1985 a 1990, o qual trouxe atrás de si seus rebentos Roseana Sarney, que foi senadora da República até 2011, José Sarney Filho, atual deputado federal pelo ilustre Estado em seu oitavo mandato e Fernando Sarney indiciado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica em 2009. Agora temos um outro gênio da raça maranhense, ou melhor gênia da raça, Lidiane Leite, acusada pela Polícia Federal de desviar quase 23 milhões de reais dos cofres da pobre prefeitura de Bom Jardim que fica a 270 quilômetros de São Luiz.

    Antes de descrever Dona Leide Day, como é chamada pelas amigas nos grupos de WhatsApp, devo fazer uma ressalva. Estou aqui a falar mal do Maranhão, mas seria injusto de minha parte dizer que Lidiane é um produto típico daquele Estado. Ao contrário, ela representa um ideal feminino, ou pelo menos o ideal de uma parte das mulheres brasileiras, caso tomemos como evidências aquilo que se publica na mídia em revistas de celebridades ou programas de televisão como Superbonita da GNT, em que é dada às mulheres a possibilidade de passarem por uma transformação radical para ficarem parecidas com uma musa da beleza. Lidiane é a mulher poderosa que conquistou a perfeição à custa de cirurgias plásticas e transformações visuais que a tornam uma boneca Barbie: loira de cabelo liso, claro, afinal é preciso destacar-se dos pretos e pobres que compõem uma grande parte da população, a boca carnuda da Angelina Jolie, os seios avantajados das atrizes de Hollywood que são os paradigmas de beleza. Talvez o único item de customização tropical seja o derrière avantajado que com certeza ela deve ter, apesar de eu não ter tido a oportunidade de vê-la de costas. As unhas vermelhas, sensuais, estão sobre o I-phone, item indispénsável para que a deusa possa tirar fotos e admirar ainda mais sua beleza refletida na tela do aparelho.

    Lidiane entrou na política como a maioria das mulheres faz, por intermédio de um membro da família, no caso o então marido Beto Rocha cuja candidatura nas eleições para prefeito de 2012 foi impugnada pela Lei da Ficha Limpa. Beto sacou então sua coelhinha da cartola, que foi eleita para o cargo de prefeita, cargo que lhe serviu como instrumento de “empoderamento” para usar uma palavra muito difundida no mundo corporativo: ela torrou dinheiro em cirurgias, baladas, carros importados, e com isso as criancinhas de Bom Jardim ficaram sem merenda e sem material escolar, os professores sem salário, as escolas sem banheiro. Só nos resta esperar que a Justiça consiga reaver ao menos parte do dinheiro surrupiado e que os eleitores não esqueçam os desmandos da bonequinha de luxo.

    A depender dos nossos digníssimos senadores, no entanto, é provável que Lidiane volte e volte por cima para cumprir um nobre propósito: preencher a cota de mulheres na política que, se a PEC relatada no início deste artigo for aprovada e tornar-se emenda constitucional, será de 10% na primeira legislatura após a promulgação da medida de “empoderamento”, 12% na segunda e de 16% an terceira. Afinal, como preencher cotas se não recrutando mulheres, mães, irmãs, amantes de políticos? É inclusive uma boa maneira de aumentar o poder de famílias como os Calheiros, Barbalho e Sarney. E para não dizerem que tenho preconceito contra o Nordeste e Norte do Brasil, para aumentar a influência da família Suplicy, em Sâo Paulo, que já conta com a ex-mulher de Eduardo Suplicy, senador por São Paulo de 1991 a 2015, na política, Marta Smith de Vasconcelos Suplicy,mais conhecida pelo nome do primeiro marido, e no Rio de Janeiro a influência da família de Anthony Garotinho, cuja mulher Rosinha foi governadora daquele Estado de 2003 a 2007, incentivada pelo marido, que ocupou o cargo imediatamente antes, de 1999 a 2002. Acredito também que em vista do modelo de mulher perfeita em vigor em nossa sociedade, a cota para mulheres pode ampliar a pauta de reivindicações do sexo feminino: que tal pleitearmos uma bolsa-plástica, isto é um vale que o Estado daria às mulheres para que pudessem realizar o sonho da repaginação, especialmente para livrarem-se daquela barriguinha indesejada adquirida depois da gravidez? Isso criaria emprego para cirurgiões, valorizando o trabalho humano e a livre iniciativa, tal como preconizado no artigo 170 da Constituição Federal e concretizaria o direito à saúde e a proteção à maternidade insculpidos no artigo sexto daquele diploma legal, como dizem os advogados.

    Prezados leitores, há muito tempo já pronunciei-me contra cotas para afro-descendentes sendo parte prejudicada e portanto legislando em causa própria. Agora, na qualidade de parte beneficiada, pronuncio-me contra cotas para mulheres, pois acredito que será meramente um cabide de emprego para familiares do sexo feminino de políticos. E considerando que as qualidades que a média das mulheres atualmente busca estão longe daquilo que poderia contribuir para a elevação do nível do debate nacional, temo que as cotas farão pulular pelo Brasil afora as Lidianes que acabarão sendo as caras-metade dos Cunhas, Sarneys, Barbalhos, Calheiros, Garotinhos e quejandos. Pessoalmente, acredito que cultivar o narcissismo pode ser prazeiroso quando somos jovens, cheias de energia e de amor para dar, mas quando chegamos a uma certa idade mais, digamos, provecta, o melhor para a sanidade mental e a paz de espírito é seguirmos uma receita mais clássica do tipo dado no século XVIII por Jane Austen. Infelizmente parece que o padrão Superpoderosa Superbonita prevalecerá.

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