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Les bêtes noires

Posted by on 25/07/2016

No domingo de manhã, durante a transmissão do programa “The Week” da rede ABC, o chefe da campanha de Hillary Clinton, Robby Mook, acusou o Wikileaks de ter publicado documentos fornecidos pelos russos para ajudar Trump.

Trecho retirado do artigo “O Partido Democrata vê a mão da Rússia por trás da publicação dos e-mails pelo Wikileaks” publicado na edição eletrônica do jornal Le Monde de 25 de julho

Acompanhamos atentamente as discussões tanto das elites dirigentes quanto da comunidade de especialistas. É suficiente ver as manchetes da imprensa ocidental no último ano. As mesmas pessoas que eram chamadas de defensores da democracia, são depois tachadas de islâmicos; primeiro eles escrevem sobre revoluções e depois as chamam de distúrbios e sublevações. O resultado é óbvio: a expansão cada vez maior do caos no mundo. […] Temos plena consciência de que o mundo entrou em uma fase de mudanças e transformações globais, quando precisamos de um grau especial de cuidado, da capacidade de evitar dar passos sem pensar. Nos anos depois da Guerra Fria, os participantes da política global perderam de certa forma essas qualidades. Agora precisamos lembrarmo-nos delas. Do contrário, as esperanças de desenvolvimento pacífico e estável serão uma ilusão perigosa, e o tumulto atual será um simples prelúdio do colapso da ordem mundial.

Trecho retirado do discurso de Vladimir Putin em Sochi em 24 de outubro de 2014 no 11º encontro do Clube de Discussões Valdai International

    Prezados leitores, o circo da eleição americana está montado. No dia 21 de julho Donald Trump foi oficialmente ungido candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, e nesta semana será a vez de Hillary Clinton pelo partido democrata. Utilizo a palavra circo porque decididamente os acontecimentos são sempre espalhafatosos. Para além das diatribes no Twitter, em que as gozações mútuas incluíram ataques à reputação moral e à beleza física das esposas dos candidatos à chapa republicana, houve o discurso surpreendente de Ted Cruz. O senador pelo Estado do Texas, discursando aos delegados do partido durante a convenção republicana em Cleveland, recusou-se a endossar o magnata do ramo imobiliário, recomendando aos colegas que votassem de acordo com sua consciência. Cruz teve que salvar sua mulher Heidi das vaias dos delegados que gritavam para ela “Goldman Sachs, Goldman Sachs”. O último fato bombástico foi a revelação do site Wikileaks de e-mails hackeados do Comitê Nacional dos Democratas revelando que os caciques do partido deram uma ajudinha a Hillary Clinton, em detrimento de Bernie Sanders, o velhinho que angariou a simpatia dos mais jovens, mas acabou derrotado nas prévias eleitorais pela candidata do establishment.

    Em suma, há muita raiva mútua e a campanha promete ser uma troca incessante de ataques entre Trump e Clinton com a superficialidade, a virulência e a eficácia que as mídias sociais atualmente possibilitam com suas hashtags, as curtidas e não curtidas, e claro as mensagens curtas. Na quinta-feira dia 21 assisti ao discurso de investidura de Donald Trump na íntegra. Durante todo o tempo, lembrei de Mussolini, o velho Benito, que tinha uma maneira característica de dizer uma frase de efeito, girar a cabeça lentamente para um lado e para o outro, e depois levantá-la, mostrando seu queixo protuberante – ou assim parecia pelos gestos – e esperando, satisfeito consigo mesmo e com sua virilidade, o efeito que suas palavras teriam sobre a massa. Donald faz exatamente a mesma coisa, não sei se de caso pensado ou simplesmente instintivamente sabe como colocar-se como o Deus ex-machina de que os americanos precisam para livrarem-se de sua classe política corrupta e venal. As frases de Trump eram curtas e grossas: promessas gerais sobre o que vai fazer, sem entrar em detalhes sobre o como, e insistência em temas caros àqueles que têm medo como “law and order”, expressão que apareceu em seu discurso várias vezes e sempre pronunciada de maneira lenta para melhor absorção pelo público. Seus ataques a Hillary foram implacáveis: chamou-a de marionete, que faz aquilo que seus doadores de campanha ordenam que faça, referiu-se à esperteza dela de ter conseguido livrar-se das garras da justiça tendo violado a segurança dos Estados Unidos ao utilizar seu servidor pessoal para lidar com e-mails do Departamento de Estado no tempo em que ela era a responsável pela política externa americana. Por fim acusou-a de incompetente, de ter sido responsável pela derrubada de Muammar al-Gaddaf na Líbia e com isso ser responsável pelo caos no Oriente Médio e a crise migratória na Europa. Trump parecia um galo de briga, levantando o peito para o adversário para mostrar sua força. Em suma, o Aprendiz-Mor fez jus à sua fama, marcou presença da maneira sempre incisiva.

    As reações ao candidato republicano são sempre radicais, do tipo ame-o ou deixe-o. Louco, imbecil, fascista para uns, genial para outros. Este meu introito sobre o conteúdo e a forma do discurso do clone do líder fascista italiano serve para que eu expresse minha humilde opinião sobre quem é o melhor candidato, ou talvez o menos pior. Considero a escolha do gestor do Império americano de relevância para todos nós, e pelo fato de haver tantas nuvens no horizonte considero Trump o melhor candidato para garantir a paz mundial. Antes que riam de mim, explico-me.

    Hillary Clinton é uma lídima representante dos neo cons, foi das primeiras a apoiar a Guerra no Iraque, e quando foi chefe do Departamento de Estado planejou a derrubada de Gaddaf na Líbia, o que abriu uma caixa de Pandora no Oriente Médio e MAGREB, em que o Estado Islâmico é a manifestação mais recente, depois do Talibã e da Al-Qaeda. Ela já se referiu ao presidente da Rússia como o novo Hitler e não admira que seu staff acuse os russos de tramarem contra ela com o vazamento dos e-mails sobre o boicote de Bernie Sanders pelos dirigentes do Partido Democrata. Para quem não sabe, a Guerra Fria está em plena efervescência, apesar de ter sido oficialmente extinta em 1991 com o colapso da União Soviética. Este episódio do doping dos atletas russos é apenas mais uma escaramuça entre Estados Unidos e o urso do Leste: querer proibir os esportistas da Rússia de participarem das Olimpíadas Rio 2016 é de uma hipocrisia infinda, porque todo sabemos que os esportes são hoje movidos a dinheiro, o desempenho excepcional é um produto e para oferecê-lo nas mais variadas cores e formatos, a ajuda de drogas é essencial. Eu cheguei até a ler em uma coluna em jornal brasileiro que o doping russo é política de Estado, fomentada é claro pela besta apocalíptica de nome Vlad. Não coloco a mão por nenhum dos que irão participar desta Olimpíada, mas querer que o público acredite que só a Rússia deve ser exemplarmente punida porque são seus esportistas os mais dopados é muita má fé. Há outros objetivos por trás, o principal deles, o de tornar o país um pária na tal da comunidade internacional.

    Outro sinal de que a Guerra Fria renasceu das cinzas é que os Estados Unidos, sob a fachada da OTAN, está atualmente instalando na Polônia o Sistema de Defesa de Mísseis Balísticos Aegis. A razão oficial é proteger a Europa do Irã, a razão subentendida é a de defender a Polônia de ataques russos, a razão verdadeira, na opinião de Putin, é cercar a Rússia de mísseis para atacá-la. É por isso que acho Trump uma opção mais segura para evitar o confronto entre potências nucleares, que seria fatal para todos nós. Em entrevista ao jornal The New York Times e no seu próprio discurso de investidura, o magnata afirmou que se for presidente não vai garantir a segurança de nenhum membro da OTAN se este membro não fizer sua devida contribuição material à defesa coletiva. Na prática, se a Polônia resolver bancar a engraçadinha e provocar a Rússia contando que terá a proteção do Tio Sam, em um governo do “The Donald”, ela dará com os burros n´água. Isso vai evitar que grandes potências iniciem uma guerra mundial por causa de países menores, como ocorreu tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundial (aliás neste caso envolvendo a mesma Polônia).

    Prezados leitores, estamos vivendo tempos perigosamente interessantes. A China tem 5.000 anos de história, a Rússia mil, nenhum deles vai render-se aos Estados Unidos, mesmo porque não perderam nenhuma guerra para eles. A política externa americana nestes últimos 20 anos tem sido pautada pelo lema faça o que nós quisermos se não será considerado ditador, terrorista, sofrerá sanções econômicas. Se a América continuar arvorando-se como polícia do mundo, invadindo países como fez no Iraque, insuflando rebeliões como fez na Ucrânia e na Síria, o “colapso da ordem mundial”, leia-se a guerra nuclear, estará cada vez mais próximo. Por considerar que seja muito mais provável que as duas bêtes noires da cena mundial, Trump e Putin, estabeleçam relações de respeito mútuo do que Hillary e Vlad estabeleceriam, eu torço para que o clone do Benito Mussolini seja eleito em 8 de novembro.

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