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Luzes, câmera, ação!

Posted by on 28/12/2016

É claro que a esquerda americana coloca a culpa na direita pela substituição da política pela libertinagem. Mas a verdade é que todo mundo tem participação nisso. Ambos os lados descrevem os oponentes de maneira interminável não como pessoas com as quais discordam, mas como vilões de histórias em quadrinhos.

Trecho retirado do artigo “Luzes, câmera, política” escrito pelo jornalista Douglas Murray sobre como a arte da política transformou-se em um reality show

Eu sempre pensei sobre a questão da Guerra nuclear; é um elemento muito importante da minha atividade mental. É a catástrofe final, o maior problema que o mundo enfrenta, e ninguém está enfocando o aspecto prático disso. É um pouco como uma doença. As pessoas não acreditam que vão ficar doentes até que elas fiquem. Ninguém quer falar sobre isso. Acho que é uma das coisas mais estúpidas o fato de as pessoas acreditarem que a guerra nuclear nunca vai acontecer, porque todo mundo sabe o quão destrutiva ela será, então ninguém vai utilizar armas nuclearas. Que besteira.

Trecho retirado de uma entrevista dada pelo Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à revista Playboy em 1990

    Prezados leitores, o Aprendiz ganhou, mas não levou. Não levou como deveria ter levado, isto é, com aqueles que não votaram em Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos aceitando sua vitória. Longe disso. Já houve várias tentativas de solapar sua vitória, vou citar apenas as duas mais importantes. Jill Stein, a candidata do Partido Verde, pediu recontagem dos votos em Estados-chave que poderiam mudar o resultado, mas não adiantou nada. Em Wisconsin, a recontagem aumento o número de votos de Trump, e em Detroit os votos dados a Hillary haviam sido inflados por seis na primeira contagem. O segundo estratagema usado pelos que consideram o bilionário neófito na política uma excrescência foi sugerir aos eleitores do Colégio Eleitoral que deixassem de votar no candidato escolhido pelos americanos. Um professor de Direito de Harvard, Lawrence Lessig, prometeu defender pro bono aqueles delegados quebrassem a tradição e escolhessem o candidato não chancelado pela maioria dos eleitores em cada Estado americano. Não deu certo novamente, e no dia 19 de dezembro Donald Trump foi eleito pelo Colégio Eleitoral Presidente dos Estados Unidos para tomar posse em 20 de janeiro em Washington.

    Tomar posse sob que condições? Aí que mora o perigo. Como bem apontou Douglas Murray em seu artigo publicado em 15 de outubro, a política nos Estados Unidos com maior intensidade, mas também na Europa com menos intensidade, transformou-se em entretenimento. Não há lugar para debates, para nuances nos argumentos, para a elaboração de consensos. Sobram acusações que resvalam para a vida pessoal e descrições caricatas dos candidatos que são categorizados pelos seus defensores como mocinhos e pelos seus detratores como bandidos. Aqui é o momento de eu fazer um mea culpa, pois ao argumentar em favor do Aprendiz de presidente eu acabei enfatizando só os defeitos de Dona Hillary Clinton, mas é claro que ela tem qualidades, afinal é uma advogada formada em uma universidade de elite dos Estados Unidos, país que ostenta o maior número de instituições de ensino superior nos rankings de excelência educacional.

    A política como entretenimento pode nos levar a dar boas risadas ao lermos frases de efeito no Twitter, ao vermos Trump sendo comparado ao Garfield pela vastidão da cabeleira, ao vermos um boneco de Hillary Clinton vestida de presidiária dentro de uma cela ser exposto na frente da loja de um partidário de Trump. Mas há um lado sinistro nisso tudo que consiste na vilificação dos personagens que poderá trazer consequências sérias à humanidade. Há um enredo que está sendo encenado no momento, como desdobramento do inconformismo da grande imprensa, que tinha certeza que os americanos seguiriam a recomendação dos jornais e revistas e votariam em Hillary Clinton, de setores da população bem- pensantes que veem Trump simplesmente como um xenófobo, machista e despreparado, e de uma parte do próprio governo dos Estados Unidos, que quer que a política externa do país continue como está semeando guerras pelo mundo para construir a “democracia”.

    Neste enredo há um vilão-mor, Vladimir Putin, invasor da Crimeia e principal apoio do presidente da Síria, Bashar al-Assad, para manter-se no poder, à custa da morte de milhões de civis. Donald Trump é o vilãozinho, porque ele é uma marionete do sanguinário Vlad, que usou sua equipe de experts em computação para invadir os computadores do Partido Democrata dos Estados Unidos e divulgar informações que comprometeram o desempenho da candidata ungida por todas as pessoas sãs deste mundo (informações sobre o modus operandi maquiavélico da equipe clintoniana cuja veracidade, diga-se de passagem, não é contestada). A prova de que Donald Trump só conseguiu eleger-se com a ajuda do ogre russo é que ele escolheu como Secretário de Estado Rex Tillerson, presidente da Exxon Mobil que recebeu em 2013 o prêmio de amigo da Rússia das mãos do próprio Lúcifer em 2012, depois que em 2011 a Exxon Mobil comprometeu-se a investir 500 bilhões de dólares na prospecção de petróleo na região do Ártico em troca de a estatal do petróleo russa, a OAO Rosneft, poder investir em concessões da Exxon Mobil em todo o mundo. A parceria fracassou por causa das sanções impostas pelos Estados Unidos em 2014 depois da anexação da Crimeia. Em suma, Trump quer colocar como Secretário de Estado um homem que quer fazer negócios com os russos, não a guerra.

    Essa história é conveniente para vários grupos e pessoas a começar, por Dona Hillary Clinton, que ao colocar a culpa da sua não eleição em Putin exime-se de olhar de frente sua própria incompetência em perceber aquilo que preocupava os americanos, algo que Trump soube fazer desde o início: o importante para os deploráveis não era garantir que os transgêneros tivessem direito de acesso ao banheiro das mulheres, mas trazer de volta os empregos perdidos com a globalização. Ela também é conveniente para grandes veículos como CNN, Washington Post, New York Times e The Economist, que podem assim justificar a total parcialidade que demonstraram em relação à candidata democrata. Eles podem dizer que os eleitores foram enganados e que se não tivesse havido a tal interferência estrangeira os americanos teriam se guiado pela luz da razão dos sábios jornalistas e votado em Hillary. Por último, e não menos importante, a versão de que Vlad é o fazedor de presidentes é útil para aqueles que querem que os Estados Unidos continuem agindo como polícia do mundo, derrubando governos, colocando títeres, causando destruição e morte no Oriente Médio e no Norte da África.

    Prezados leitores, nesta era da pós-verdade, da política como puro entretenimento, nunca saberemos de fato quem é responsável pelo hacking. As acusações contra os russos foram de agentes anônimos da CIA, que foram imediatamente repercutidas nos ditos veículos sérios da imprensa americana. Por que esses agentes da CIA não se identificam? Por que a CIA agora mete-se em política interna, sua tarefa não é a de atuar pelo mundo afora para viabilizar a política externa americana? Se estão falando a verdade e têm provas porque não vêm à público, por que não comparecem no Congresso Americano? Espero que o façam em breve e fundamentem suas declarações de maneira robusta. Fofocas e maledicências só servem para minar um governo que nem começou e que já está levando saraivadas de todo lado. Eu sinceramente espero que Trump consiga emplacar seu Secretário de Estado e que o Senhor Tillerson contribua para normalizar as relações com a Rússia. Porque se essa história em quadrinhos estrelando a dupla de vilões Donald e Vladimir prosperar, teremos muita ação neste mundo, e como disse o então magnata do ramo imobiliário em 1990 o indizível poderá ocorrer, isto é o enfrentamento nuclear entre as superpotências.

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