Conclave

Esse fanático nem desconfiava que alguém pudesse raciocinar com base em premissas diferentes das suas; eu oferecia a este povo desprezado um local dentre outros na comunidade romana: Jerusalém, por intermédio de Akiba, me transmitia sua vontade de permanecer até o fim a fortaleza de uma raça e de um deus isolados do gênero humano. Esse raciocínio absurdo era expresso por intermédio de uma sutileza fatigante: eu tive que aguentar um longo rol de razões, deduzidas de maneira erudita umas das outras, da superioridade de Israel.

Trecho retirado do livro “Memórias de Adriano”, escrito por Marguerite Yourcenar (1903-1987), em que o imperador Adriano (76-138 d.C.) escreve uma carta a Marco Aurélio (121-180 d.C.), que seria imperador

Havia algo de frio e impessoal nos deuses da religião oficial; eles podiam ser comprados por oferendas ou sacrifícios, mas raramente conseguiam proporcionar conforto ou inspiração individual. […] Quando novos cultos fluíram do Leste conquistado, foi esse culto oficial que decaiu primeiro, enquanto a fé pitoresca e íntima e o ritual do campo sobreviveu de maneira paciente e obstinada.

Trecho retirado do livro “Caesar and Christ”, escrito pelo filósofo e historiador americano Will Durant (1885-1981) sobre a religião romana

[…] Jeová, o Deus dos Judeus, era no início acima de tudo a Divindade de uma tribo semítica Que protegia Seu próprio povo. Junto com Ele, havia deuses que reinavam sobre outras tribos. Não há nessa época nenhuma sugestão de um outro mundo. O Deus e Senhor de Israel comandava o destino terreno de Sua tribo. Ele é um Deus ciumento e não permitirá que Seu povo tenha outros deuses além Dele.

Trecho retirado do livro “Wisdom of the West” do filósofo e matemático britânico Bertrand Russell (1872-1970)

    Prezados leitores, por volta de 130, portanto no segundo século da era cristã, o imperador Adriano está em Alexandria, no Egito, que é então província de Roma. Assim como qualquer mero mortal no século XXI de posse do seu celular, Adriano visita os pontos turísticos da cidade. Se hoje há a nova biblioteca de Alexandria, àquela época havia a biblioteca original e outras três grandes atrações que foram tragadas pelas areias do tempo: o Farol de Alexandria, o mausoléu de Alexandre, o Grande (356 a.C.-323 a.C.) e o mausoléu de Marco Antônio (83 a.C.-30 a.C.) e de Cleópatra (70 a.C.-30 a.C.). O farol de Alexandria está no fundo do mar e ao menos restos dele foram descobertos no porto da cidade em 1998. Já os mausoléus são o Santo Graal da arqueologia ocidental: procurar muitos têm procurado, mas nada ainda foi achado.

    Adriano era mais do que um turista privilegiado, ele era o líder do Império Romano que ainda duraria mais duzentos anos. Era preciso que ele cumprisse funções de chefe de Estado e por isso recebia delegações com representantes de reinos e povos mais ou menos subjugados por Roma. Um deles eram os judeus. Àquela época, Adriano já havia ordenado a instalação da colônia Aelia Capitolina em Jerusalém que estava então em ruínas, depois da destruição pela segunda vez do Templo, em 70 d.C. Conforme o trecho que abre este artigo, o imperador recebe Akiba (40 d.C.-135 d.C.), o chefe da delegação dos judeus, que vem pedir-lhe que deixe Jerusalém como está, para que o povo judeu possa continuar a viver de acordo com suas tradições. Adriano considera os argumentos colocados pelo líder religioso absurdos e se irrita com a arenga de Akiba, principalmente pelo fato de que ele imperador podia entender quais eram as premissas do raciocínio do judeu, mas este não podia sequer considerar que pudesse haver outras premissas diferentes das suas que levassem a outras conclusões. E quais eram os respectivos princípios fundamentais?

    Conforme explica Bertrand Russell no trecho que abre este artigo, a religião judaica era não só monoteísta como exclusivista. Havia um só Deus, Jeová, e este havia feito uma aliança com o povo judeu e somente com ele. Jeová tratava dos assuntos do povo judeu e mais nada e ai do judeu que quebrasse o pacto firmado com Jeová, que exigia fidelidade absoluta. Não é de admirar que Akiba estivesse solicitando a Adriano que a Aelia Capitolina fosse abortada. Instalar uma colônia romana necessariamente levaria à construção de templos dedicados aos deuses romanos. Como aceitar que isso fosse feito em Jerusalém, a capital do povo que tinha aliança com Jeová? Um templo em homenagem a Vênus afrontaria a autoridade de Jeová em território onde ele gozava de jurisdição absoluta.

    Ora, Adriano jamais poderia levar em consideração nenhum dos argumentos propostos por Akiba justamente porque ele não aceitava a premissa que o Deus cultuado por uma tribo específica deveria ter prioridade sobre os deuses de outros povos. Não só a religião romana era politeísta, aceitando diferentes divindades em seu panteão, mas as relações com a divindade eram bem diferentes. Jeová dava ordens aos seus jurisdicionados, comandando-os a atravessar o deserto ou o Mar Vermelho, e estabelecia um código de conduta moral, consubstanciado nos Dez Mandamentos. Na religião romana, a relação do homem com a divindade era transacional.

    Conforme o trecho que abre este artigo, o fiel sacrificava animais ou até seres humanos, fazia oferendas de objetos ou alimentos, cumpria rituais precisos, para receber em troca a satisfação de algum desejo ou a mitigação de algum sofrimento. Os romanos não obedeciam a seus deuses como os judeus obedeciam a Jeová, em uma típica relação de pai e filho. Eles negociavam com seus deuses com o objetivo de celebrar um contrato em que as partes tinham obrigações mútuas. A obrigação do homem era ou executar bem o ritual ou fazer o sacrifício ou a oferenda proporcionais ao pedido. A obrigação da divindade era entregar a contraprestação, qual seja, satisfazer o desejo do postulante.

    Não admira que os romanos tenham sido os pais do Direito Ocidental, dado seu apreço pelo legalismo, pelos procedimentos detalhadamente estabelecidos e pelo formalismo. No entanto, não admira que, para que o Império Romano pudesse sobreviver como entidade supranacional, transmutando-se na Igreja Católica, ele tenha que ter importado um culto do Oriente, o Cristianismo, que em seu início era um judaísmo reformado e que adicionou a emoção da relação subjetiva do homem com o Deus único e verdadeiro, substituindo a relação fria e objetiva vigente sob os princípios romanos. Foi só quando Paulo de Tarso colocou de lado a circuncisão e as restrições alimentares que essa seita de judeus heterodoxos se tornou universalmente aceitável e pôde dar origem à instituição com sede em Roma e chefiada por seu pontifex maximus, que era o chefe dos sacerdotes encarregados da religião do Estado, isto é, das práticas transacionais com as divindades para o bem da coletividade dos cidadãos romanos.

    Prezados leitores, nesses tempos de conclave para a escolha do novo papa, não só habemus papam em latim lembra as origens da Igreja Católica no Império Romano. O ritual da fumaça preta ou branca, as palavras precisas ditas pelo cardeal eleito por seus pares para aceitar o encargo de pontifex maximus são parte do legado a que Adriano chamou de “comunidade romana”, os valores que embasavam Roma como instituição imperial. No final das contas, tanto o ponto de vista de Adriano quanto o de Akiba acabaram sobrevivendo na Igreja Católica, afinal ela é monoteísta, mas cultua uma infinidade de santos. Enquanto esperamos a revelação do novo chefe de Estado e chefe de governo do Vaticano, lembremos que Adriano, nas profundezas do seu mausoléu no Castelo Sant’Angelo, à beira do Rio Tibre, poderá olhar o homem que acenará da sacada na Praça de São Pedro, a quatro quilômetros dali, como seu sucessor.

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Sobre tigres e cloacas

Não me parecia impossível tratá-los como eu havia tratado esse homem, de torná-los inofensivos por conta da bondade, contanto que eles soubessem em primeiro lugar que a mão que os desarmava era firme. Todos os povos pereceram até agora por falta de generosidade: Esparta teria sobrevivido mias tempo se ela houvesse despertado o interesse dos hilotas pela sua sobrevivência; um belo dia Atlas deixa de sustentar o peso do céu e sua revolta chacoalha a terra. Eu teria gostado de recuar o mais possível, evitar se possível, o momento em que os bárbaros lá fora, os escravos aqui dentro, se precipitarão sobre o mundo que se exige que eles respeitem de longe ou que sirvam de baixo, mas cujos benefícios não são para eles. Eu gostaria que a mais desprovida das criaturas, o escravo que limpa as cloacas das cidades, o bárbaro faminto que errava pelas fronteiras, tivesse interesse a ver Roma durar.

Trecho retirado do livro “Memórias de Adriano”, escrito por Marguerite Yourcenar (1903-1987), em que o imperador Adriano (76-138 d.C.) escreve uma carta a Marco Aurélio (121-180 d.C.), que seria imperador

Ao escravo negro se obrigou aos trabalhos mais imundos na higiene doméstica e pública dos tempos coloniais. Um deles, o de carregar à cabeça, das casas para as praias, os barris de excremento vulgarmente conhecidos por tigres. Barris que nas casas-grandes das cidades ficavam longos dias dentro de casa, debaixo da escada ou num outro recanto acumulando matéria. Quando o negro os levava é que já não comportavam mais nada. Iam estourando de cheios. De cheios e de podres. Às vezes largavam o fundo, emporcalhando-se então o carregador da cabeça aos pés.

Trecho retirado do livro Casa-grande & senzala, do sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987)

    Prezados leitores, vocês já refletiram sobre o modo como as pessoas que prestam serviços domésticos – faxineiras, empregadas, encanadores, eletricistas – veem vocês? Por acaso vocês acham que pelo fato de sermos educados, pagarmos direitinho e sorrirmos os nossos serviçais gostam de nós? É só pensarmos na atitude que temos em relação a quem tem muito mais dinheiro do que nós para sabermos. Pude comprovar meus próprios sentimentos dúbios hoje ao almoçar com uma amiga que é rica o suficiente para viver de renda e não precisar trabalhar como eu, que se ficar desempregada depois de alguns meses começarei a ter dificuldades em manter meu padrão de vida.

    Ela falou sobre seus problemas de saúde, mas não tão graves que ameacem sua sobrevivência. Aliás, ela parece muito bem, pois está musculosa. Tem um personal trainer que vai a sua casa fazê-la se exercitar na piscina. Não pergunto detalhes da vida dela, porque como estou em um nível econômico bem inferior não quero parecer abelhuda e invejosa, mesmo porque se eu fizesse perguntas que a obrigassem a revelar parte da sua situação financeira privilegiada ela ficaria encabulada. Como tenho vergonha de falar sobre minha humilde vida de trabalhadora assalariada ela acaba sendo a protagonista das nossas conversas.

    Em assim sendo, apesar de toda sua discrição em ficar calada sobre os sinais de riqueza e a minha em não fazer perguntas, às vezes ela deixa escapar alguns detalhes. Hoje ela me revelou que está construindo uma casa em Portugal. Eu só me atrevi a perguntar em que lugar (Cascais), mas não indaguei do motivo. Só fiz o comentário de que há muitos americanos e britânicos (o caso dela) adquirindo imóveis em nossa antiga metrópole. Ela confirmou.

    Depois que a deixei e voltei à labuta lembrei-me de um português natural da Galícia que tem uma pequena rotisserie perto de minha casa. Esperando que ele aprontasse o galeto na brasa que eu havia pedido, comecei a conversar com o gajo. Ele quer voltar para Portugal, mas está muito caro lá. Deveras, cidadãos globais como minha amiga, que se movimentam pelo mundo para aproveitar o que há de melhor em cada canto, gostam do clima agradável de Portugal, cujos invernos são bem menos rigorosos do que no Norte da Europa e na maior parte dos Estados Unidos.

    Não admira que haja impacto no mercado imobiliário do fluxo de pessoas com poder aquisitivo para adquirir imóveis em locais atrativos, como perto do litoral. De acordo com o site Pearls of Portugal, em Lisboa estrangeiros compraram 33% dos imóveis vendidos em 2023. No Algarve eles foram responsáveis por 27% das compras de imóveis. Minha amiga entra nessas estatísticas, contribuindo para tornar a aquisição da casa própria por portugueses de classe média mais difícil, pois têm que competir com os cidadãos globais. Em assim sendo, os brazucas acabam sendo um bode expiatório fácil para as queixas dos lusitanos: ao contrário dos gringos ricos que inflacionam o mercado imobiliário, mas injetam dinheiro na economia, os brasileiros estão lá em sua maior parte para oferecer sua força de trabalho, a competir com os nossos primos.

    Essas associações que fiz entre a felicidade de minha amiga em desfrutar do bacalhau e do sol lusitanos e a infelicidade do vendedor de galetos que não pode voltar para sua terra natal provavelmente ainda não passaram pela cabeça dela e passaram pela minha porque estou de fora da bolha em que ela vive. Pode ser que ainda passe pela cabeça dela e isso seria bom para que tenha consciência dos privilégios de que goza e faça alguma coisa para torná-los menos ofensivos aos que estão no andar de baixo, como eu. O imperador romano Adriano, tal como representado pela escritora Marguerite Yourcenar, tinha a receita de como lidar com essas discrepâncias entre a bem-aventurança de uns e a miséria de outros.

     Conforme o trecho que abre este artigo, Adriano considerava que ser bom com os mais humildes era muito importante.  Bom não no sentido de farta generosidade de tratamento igualitário, mas no sentido de condescendência. Era preciso jogar algumas apetitosas migalhas aos que estavam no andar de baixo e ao mesmo tempo nunca os deixar esquecer quem mandava e quem obedecia. Isso cumpriria dois objetivos: permitiria que os desfavorecidos pela sorte, pelo nascimento ou pelo talento conseguissem uma parte – pequena que fosse – da prosperidade de Roma e que esses desfavorecidos, beneficiados que haviam sido pela generosidade do andar de cima, tivessem interesse em manter a organização econômica, política, cultural e militar que era Roma. Só assim o Império Romano manteria suas fronteiras e não seria conquistado pelos bárbaros e manteria a paz interna, impedindo revoltas das classes inferiores. Resumo da ópera para Adriano: Roma só sobreviveria se até o mais humilde dos seres, os escravos que limpavam as cloacas da cidade-eterna, considerasse que para ele era melhor que aquele sistema continuasse funcionando pois ele conseguia obter algo para si, por pequeno que fosse.

    Será que no Brasil os escravos que carregavam os baldes de excrementos, conforme a descrição de Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala, consideravam que por mais vis que fossem suas atividades, tais como os limpadores de cloacas romanas, eles tiravam algum benefício do regime escravocrata? Se considerarmos os índices de corrupção e violência que ainda prevalecem no país em pleno século XXI, vemos que temos um problema sério em engajar todos os cidadãos a terem interesse em que o sistema funcione. No índice da organização Transparency International ocupamos a posição de número 107 em 2024 entre 180 países, elencados dos menos aos mais corruptos, e ocupamos a 15ª posição no ranking das taxas de criminalidade, registrando 65,6 crimes por 100 habitantes, de acordo com o site World Population Review.

    Prezados leitores, o que fazer? Será que a receita de Adriano ainda faz sentido? Adriano foi um dos chamados imperadores-filósofos de Roma, que incluíram Trajano (98-117 d.C.), Adriano (117-138 d.C.), Antonino Pio (138-161 d.C.), Lúcio Vero (161-169 d.C.) e Marco Aurélio (161-180 d.C.), caracterizados por sua sabedoria e habilidades aplicadas à arte de governar.  Fazer com que todos se sintam parte do todo e não seres descartáveis nunca é uma má ideia para tornar a sociedade mais próspera e estável. Oxalá, consigamos algum dia seguir essa simples regra da boa governança.

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Guerra e Paz

A verdade é raramente simples; normalmente ela tem uma mão direita e uma esquerda, e anda com os dois pés. Alguma vez houve, desde Ashoka, uma grande guerra em que um país admitisse que a causa do inimigo era mais justa? É parte da natureza do cidadão médio fazer do seu Deus um particeps criminis nas guerras do seu país.

Trecho retirado do livro “The Age of Napoleon”, escrito por Will Durant (1885-1981) e Ariel Durant (1898-1981)

Em que pese cinco minutos antes o Príncipe Andrei tivesse sido capaz de dizer algumas palavras aos soldados que o estavam carregando, agora com os olhos fixos em Napoleão, ele permaneceu em silêncio … Tão insignificante parecia naquele momento todos os interesses que prendiam a atenção de Napoleão tão mesquinho parecia seu próprio herói, com sua vaidade insignificante e sua alegria na vitória, em comparação com o céu sublime, equânime e gentil que ele havia visto e entendido, que ele não conseguiu responder a ele. Tudo parecia tão fútil e reles em comparação com a sequência de pensamentos austeros e solenes que a fraqueza pela perda de sangue, o sofrimento e a proximidade da morte despertaram nele. Olhando nos olhos de Napoleão, o Príncipe Andrei refletiu sobre a insignificância da grandeza, a falta de importância da vida que ninguém podia entender, e a desimportância ainda maior da morte, cujo significado nenhum ser vivente podia entender ou explicar.

Trecho retirado do livro “Guerra e Paz” do escritor russo Liev Tolstoy (1828-1910)

 

A situação é calamitosa para a Ucrânia – Ele pode obter a Paz ou pode lutar por mais três anos antes de perder todo o País. Eu não tenho nada a ver com a Rússia, mas tenho muito a ver em querer salvar, em média, 5.000 soldados russos e ucranianos por mês que estão morrendo por nenhum motivo.

Trecho de twitter publicado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a tratativas para um acordo de paz que coloque um fim à Guerra da Ucrânia

    Prezados leitores, algum de vocês já teve uma experiência epifânica? Um momento vivido de maneira tão intensa que deixou uma impressão na mente e levou à reflexão profunda e à descoberta de uma verdade fundamental? Escritores fazem uso desses momentos de revelação em suas narrativas para passarem sua mensagem da maneira mais eficaz possível: não explicando nem tecendo argumentos, mas simplesmente mostrando na prática. O trecho que abre este artigo ilustra essa técnica literária.

    Andrei Bolkonski, oficial do Exército Russo, jaz ferido no campo da Batalha de Austerlitz, travada em 2 de dezembro de 1805 na Morávia, entre o exército francês, comandado por Napoleão Bonaparte (1769-1821), e uma coalizão entre a Áustria e a Rússia, batalha da qual o já imperador Napoleão I sai vitorioso. Esvaindo-se em sangue, já em estado de alucinação, Bolkonski olha para o céu e em contemplando o azul do firmamento chega a uma constatação que cala profundamente em sua alma. A vida humana, o sofrimento, a glória do poder, nada disso se compara à beleza e ao mistério da criação. Não sabemos por que estamos aqui, como aqui chegamos e para onde iremos, e jamais iremos saber. Só nos resta atermo-nos ao fundamental e deixarmos o que é insignificante de lado: o fundamental é desfrutar das coisas simples da vida e deixar de lado a busca pelo poder, pelas honras e pelas realizações.

    Não revelarei aqui que caminhos o momento epifânico de Andrei o leva a percorrer depois da experiência de quase-morte em Austerlitz. Para saberem leiam as quase 1.400 páginas do livro ou assistam à minissérie produzida pela BBC, em 2016. O que importa para os propósitos deste artigo é que o autor de Guerra e Paz, ao descrever o período em que a Rússia participou das Guerras Napoleônicas (1803-1815), quer mostrar, através do percurso existencial de seu personagem, a futilidade da guerra e propor a paz. Bolkonski, que antes de Austerlitz admirara o homem que havia por seu próprio esforço conquistado um reino para si, passa a desprezar sua vaidade e sua empáfia. Afinal, o poder e a glória de Napoleão foram conquistados à custa de milhares de mortos em relação ao quais o pequeno corso sentia indiferença, como mostra a cena do seu passeio a cavalo em meio aos moribundos e ao já defuntos. Para o pacifista Tolstoy este era um preço alto demais a ser pago pela sociedade para que um homem genial como Napoleão pudesse dar vazão às suas capacidades intelectuais.

    Este sacrifício de vidas em vão também é rechaçado, em pleno século XXI, por Donald Trump. Na semana passada eu o abordei neste meu humilde espaço, tecendo a hipótese de que ele talvez cumpra o papel que o filósofo Friedrich Hegel dava a certos personagens históricos de serem a expressão da força dos eventos e das circunstâncias: de estarem de tal modo em sintonia com o espírito do tempo que se tornam uma força que dá unidade ao que estava disperso, dando significado ao que era informe e caótico e que por meio deles se cristaliza e consolida. Nesse sentido o Orange Man poderia ser a expressão do fim da globalização e do livre trânsito de mercadorias, pessoas e capitais entre os países.

    Por outro lado, talvez o gênio hegeliano de Trump esteja alhures. As idas e vindas em relação às tarifas sobre os produtos fabricados na China e o estabelecimento de exceção às alíquotas de 144% em relação a produtos eletrônicos, deixam claro que Trump e sua equipe econômica tiveram que improvisar e recuar parcialmente porque a reação do mercado foi preocupante para os americanos. Houve uma venda acentuada de títulos do Tesouro e com isso uma disparada dos juros. Considerando que o déficit federal dos Estados Unidos foi de 1,8 trilhões de dólares em 2024, qualquer alta nos juros pode dificultar a rolagem da dívida, tornando-a mais cara.

    Quem vendeu os T-bonds? Talvez o governo da China, que atualmente possui 782 bilhões de dólares investidos nesses títulos? A pressão surtiu efeito e Trump revogou parte do tarifaço. Mesmo que o governo americano acabe por seguir em frente com ele, é incerto se haverá resultado palpável em termos de reindustrialização do país. Os produtos made in China participam de tantas cadeias de suprimentos que com certeza muitas indústrias nos Estados Unidos se ressentirão da falta de insumos para a fabricação de seus produtos. Foram décadas e décadas em que o Império do Meio investiu em infraestrutura física e em capital humano de forma a se tornarem produtivos e competitivos. Não será um tarifaço de Trump que reverterá essa situação, outras frentes terão que ser abertas para melhorar as condições econômicas dos Estados Unidos e talvez o Orange Man não tenha o tempo para trabalhar nelas.

    Desse modo, se for para Trump expressar o espírito da época talvez seja pela busca da paz. Como ele deixa claro no twitter citado na abertura deste artigo, o Presidente dos Estados Unidos quer colocar um basta à Guerra na Ucrânia, que se arrasta desde fevereiro de 2022. Não importa saber quem tem razão: se são os russos que dizem querer acabar com o nazismo que floresce na Ucrânia e defender minorias étnicas russas que são oprimidas no país ou os ucranianos, que reclamam da invasão do seu território e da violação da sua soberania.

    Conforme Will Durant explica na última parte do seu livro “The Age of Napoleon”, ao fazer um balanço da carreira do corso genial e infernal, a verdade é complexa. As partes beligerantes tendem a apresentar as razões do seu comportamento sob a luz mais favorável possível e raramente reconhecem alguma validade na argumentação contrária. O que fazer? Continuar lutando até que a força das armas dê razão a um ou a outro? Ou deixar as justificativas de parte a parte de lado e enfocar o término das hostilidades para que vidas sejam poupadas?

    O Orange Man parece inclinar-se pela busca da paz sem muitas perguntas sobre quem é inocente e quem é culpado pela guerra, pois qualquer fenômeno histórico comporta inúmeros ângulos de visão. Se ele conseguir que as hostilidades cessem, os russos e ucranianos que estão no campo de batalha agradecerão. Eles podem não contemplar o céu e filosofar como Andrei Bolkonski fez em 1805, mas poderão voltar para sua família e a uma vida normal sem sons de artilharia e de bombas caindo ou o zumbido de drones voando no espaço.

    Prezados leitores, oxalá Trump, que parece não entender muito de economia, possa ser o gênio da paz neste século XXI.

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O Orange Man e o Zeitgeist

Se as operações da história são uma expressão da Razão – das leis inerentes à natureza das coisas – deve haver algum método tanto no processo quanto no resultado. […] Há, então um desígnio geral ou total por trás do curso da história? Não, se isso significa um poder supremo consciente guiando todas as causas e efeitos em direção a um objetivo; sim, na medida em que o amplo fluxo dos eventos, à medida que uma civilização avança, é movido pelo total do Geist ou Mente para levar o homem cada vez mais perto da sua meta, que é a liberdade por meio da razão.

Trecho retirado do livro “The Age of Napoleon”, escrito por Will Durant (1885-1981) e Ariel Durant (1898-1981) sobre o pensamento do filósofo alemão G. W. F. Hegel (1770-1831)

Para mim, eu busquei sempre a liberdade mais do que o poder, e o poder somente porque em parte ele favorecia a liberdade. O que me interessava não era uma filosofia do homem livre (todos aqueles que tentam fazer isso me aborrecem), mas uma técnica: eu queria achar a dobradiça à qual nossa vontade se articula ao destino, onde a disciplina é um acessório da natureza, e não um estorvo para ela.

Trecho retirado do livro “Memórias de Adriano”, escrito por Marguerite Yourcenar (1903-1987), em que o imperador Adriano (76 d.C.-138 d.C.) escreve uma carta a Marco Aurélio (121 d.C.-180 d.C.), que seria imperador

    Prezados leitores, uma das minhas últimas manifestações de energia produtiva deu-se há mais de dez anos, quando escrevi meu trabalho de conclusão de curso, o famigerado TCC, no último ano da faculdade. Para conseguir fazê-lo eu me obriguei a um ritual: sentar-me na cadeira no domingo à tarde, acontecesse o que acontecesse, e escrever ao menos um parágrafo, abdicando de assistir ao Domingão do Faustão. Fazendo isso durante seis meses consegui completar a tarefa e apresentar minha opus magna ao meu orientador, que era o meu professor de Direito Internacional e ao seu convidado, outro professor da mesma área. Meu tema foram duas disputas em que o Brasil se envolveu na Organização Mundial do Comércio, uma a respeito do algodão e outra a respeito dos aviões da Embraer. Para discuti-las tracei um painel histórico das origens da OMC e ao final teci algumas considerações sobre o tal do livre comércio, que de livre tem muito pouco, dadas as intervenções governamentais na taxa de câmbio, nos tributos e nos incentivos dados às empresas para se tornarem grandes exportadoras.

    Minha humilde obra acadêmica me veio à cabeça com esta bomba atômica solta pelo presidente americano Donald Trump, que depois de retirar os Estados Unidos da OMC logou quando tomou posse em 20 de janeiro, agora vem impor tarifas alfandegárias contra todos os países do mundo, jogando no lixo os princípios e regras do comércio internacional. Será este o prenúncio do fim da livre circulação de mercadorias, serviços e capitais que foi a tônica da ordem mundial vigente desde o fim da Segunda Guerra Mundial e se acelerou ainda mais depois do fim da Guerra Fria? Será que em causando choque e surpresa, Trump é o gênio da concepção hegeliana? Para tentar responder a essa pergunta, devo explicar a filosofia da história de Friedrich Hegel.

    Conforme o trecho que abre este artigo, o curso da história é um rio caudaloso que segue uma determinada rota e corre para um determinado ponto. Essa rota são as leis inerentes à natureza das coisas, a que Hegel dá o nome de Razão, e esse ponto de chegada é o ápice da liberdade por meio da Razão. O gênio, para Hegel, é aquele homem que dá expressão a esse espírito que anima os acontecimentos históricos e que faz com que eles tendam a um determinado fim. Nesse sentido, o gênio é o homem que percebe de maneira consciente ou intuitiva para onde o vento sopra e, navegando nas águas turbulentas da história, permite que o espírito que emana do fluxo dos acontecimentos possa revelar-se ao final quando o caminho é completado e o objetivo cumprido. Hegel dá como exemplo de gênio Napoleão, que intuiu as necessidades do seu tempo e foi o agente da necessidade da Europa de leis consistentes e válidas para todos, que substituíssem a miríade de regras impostas em cada local da Europa de acordo com o senhor feudal de plantão.

    Sob essa perspectiva, a tarefa do gênio não é trazer a felicidade, mas estando em conexão perfeita com o espírito do tempo, fazer com que haja o movimento dialético da confrontação da tese pela antítese e a criação da síntese, que em última análise é o fim da história. O gênio faz com que o progresso ocorra porque, longe de lutar contra o fluxo dos acontecimentos ele ajuda a acelerá-los, cristalizando tendências que estavam apenas incubadas. É por isso que o gênio é livre: ele se livra das restrições porque ele não luta contra a correnteza, ele nada a favor dela. Não é por acaso que Adriano, o imperador romano retratado por Marguerite de Yourcenar, quer atar sua vontade ao destino de modo que ele pudesse cavalgar livremente. Conforme o trecho citado na abertura deste artigo, Adriano não quer negar a natureza, não quer tolhê-la, ele quer montar sobre ela qual em um cavalo para tirar o máximo da vida.

    Nesse ponto retomo a pergunta que coloquei no início: será que Donald Trump é um gênio que intuiu o Espírito do século XXI e por isso está destruindo implacavelmente os paradigmas do século XX? Será que ele intuiu que no século XX os Estados Unidos eram um império e agora ele precisa se transformar em uma nação entre outras e que a era dos impérios ficou definitivamente para trás? Será que ele percebeu que a “América” havia imposto a regra do livre comércio feito em dólares para que, em troca de absorver a produção industrial do mundo, ela também absorveria os capitais do mundo e poderia ter uma moeda forte que lhe permitisse gastar à vontade para manter seu poderia militar nos quatro cantos da Terra? Será que agora Trump quer que seu país siga o fluxo da história e volte a ser um país normal, que precise produzir coisas para poder trocá-las por outros produtos e não simplesmente dar notas verdes impressas a rodo aos seus parceiros comerciais? Será que ele intuiu que a hegemonia do dólar como reserva internacional ficou para trás e o melhor a fazer é tratar de adaptar os Estados Unidos ao novo normal? Será que com o fim da globalização os países procurarão ficar mais resilientes, produzir localmente e evitar depender de cadeiras globais de suprimento? Não será o encurtamento das cadeias de suprimento o melhor meio de diminuir nossa pegada de carbono em tempos de aquecimento global? Ou será que o Orange Man é um louco, ignorante, incompetente e está simplesmente causando uma disrupção na ordem econômica pós-1945 sem nada trazer de benéfico nem aos americanos e nem ao mundo? Será que a política econômica de Trump só trará recessão, perdas financeiras e desemprego em escala mundial?

    Prezados leitores, como definitivamente não sou nenhuma gênia não tenho como saber para onde o rio da História está correndo, qual o Zeitgeist do século XXI. Seja como for, fica a lição de Hegel: a história do mundo não é o palco da felicidade, porque havendo movimento há sempre as dores do parto da nova síntese, do novo fim da história, que gerará um outro ponto de partida. Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos e nos preparemos para sofrer em prol da manifestação plena da Razão no mundo, seja através do Orange Man ou de algum outro que o desafie.

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Envelhecer como?

Eu uso o que eu tenho de inteligência para ver de longe e do mais alto minha vida, que se torna agora a vida de um outro. […] Minha vida tem contornos menos nítidos. Como acontece frequentemente, é aquilo que eu não fui, talvez, que a define com o maior grau de justiça: bom soldado, mas não um grande homem de guerra, amante da arte, mas não esse artista que Nero considerava ser à sua morte, capaz de cometer crimes, mas não acusado de crimes

Trecho retirado do livro “Memórias de Adriano”, escrito por Marguerite Yourcenar (1903-1987), em que o imperador Adriano (76 d.C.-138 d.C.) escreve uma carta a Marco Aurélio (121 d.C.-180 d.C.), que seria imperador

O turista que se embrenha em um roteiro prazeroso, que o descole da rotina e lhe abra a visão, é beneficiado por uma ebulição nas células que leva justamente à sua regeneração, o que acaba por contribuir para o equilíbrio tanto físico como mental. “Embora o envelhecimento seja irreversível, viajar pode retardá-lo e melhorar nossa saúde geral”, explicou a VEJA Fangli Hu, coordenadora da pesquisa.

Trecho retirado do artigo “Viajar é Viver” publicado na edição da revista VEJA de 4 de abril

    Um homem que subiu no Monte Etna, na Sicília, para apreciar o nascer do sol. Um homem de incansável curiosidade sobre tudo e todos que o impelia a viajar. Um homem que conheceu um moço na Ásia Menor, Antínoo e o fez seu amante tão querido que quando Antínoo morreu afogado no rio Nilo, o homem chorou muito e para consolá-lo seus súditos na Grécia estabeleceram o culto de Antínoo, que se espalhou pelo Oriente e pelo Ocidente. Este era Adriano, o imperador romano que ainda hoje é lembrado não só por seu homossexualismo e sua paixão pela arte e pelas coisas belas em geral, mas por seu legado material, que ainda pode ser visto hoje no Norte da Inglaterra, na fronteira com a Escócia, a Muralha de Adriano, relíquia do tempo em que as fronteiras setentrionais do Império Romano precisavam ser protegidas contra os povos bárbaros.

    Se na semana passada eu ofereci neste meu humilde espaço alguns conselhos tirados dos ensinamentos de Arthur Schopenhauer sobre como tocar a vida da maneira menos dolorosa possível, desta vez minha carteira filosófica tem como item disponível o exemplo do Adriano real e do Adriano personagem criado pela escritora Marguerite Yourcenar em seu livro de ficção, inspirado na vida do imperador romano. Aqui como lá se oferece uma maneira de envelhecer.

    O Adriano das Memórias está perto da morte, a qual veio para ele de maneira lenta e dolorosa. Ele confessa quão terrível é querer a morte e não conseguir obtê-la e ter de passar por um período de agonia. Nesse estado, ele decide escrever uma carta a Marco, a quem ele adotara como filho e que no futuro se tornará o imperador filósofo autor das “Meditações”, que até hoje são fonte de inspiração ética, depois de quase 2.000 anos. O trecho citado na abertura deste artigo dá uma ideia do estado de ânimo do imperador. Desapegando-se da vida, deixando de se sensibilizar pelo mundo que o rodeia, Adriano consegue ter uma visão objetiva da sua existência, justamente porque seu envolvimento emocional com as pessoas e os acontecimentos se torna cada vez menor. Ele percebe que a vida dele é feita de vazios, de muitas coisas que ele não conseguiu fazer, ser um grande chefe militar, ser um grande artista.

    Esse voo do ancião sobre seu percurso na Terra é um traço que caracteriza a idade provecta e faz com que consigamos atingir um nível de sabedoria que nos prepara para a morte. Fazer um balanço das nossas conquistas e fracassos, de maneira desassombrada, faz com que fiquemos em paz e não nos deixemos tomar pelo amargor da frustração. Afinal, o importante, como dizia o velho Frank Sinatra, é poder dizer “I did it my way”: talvez eu não tenha feito tudo aquilo que sonhara quando era jovem e cheio ou cheia de energia, mas isso não é uma grande tragédia, porque cheguei em um ponto em que adquiri um desprendimento das paixões, de modo que nada parece nem muito maravilhoso, nem muito péssimo e ter chegado já por si é uma conquista. Afinal, esse ponto de chegada permite partir para uma visão do alto que mostra tudo em perspectiva, em seu devido contexto, considerando o quadro geral e todos os fatores que contribuíram para aquele estado de coisas.

    O Adriano real, que foi imperador de Roma por 21 anos, passou mais tempo fora da cidade do que lá, na capital do seu vasto império, pois como escreveu o escritor cristão Tertuliano (160 d.C. – 240 d.C.), ele era um explorador de tudo o que havia de interessante, e por isso viajou por todos os cantos dos domínios de Roma, tanto na Europa Ocidental, quanto na Europa Oriental, passando pela Ásia Menor e pela África. E não é que essa curiosidade infinita por conhecer novos lugares e novas culturas é uma boa maneira de tornar o envelhecimento menos penoso?

    O trecho citado na abertura deste artigo faz menção ao efeito fisiológico de viagens, tal como constatado por um estudo realizado pela Universidade Edith Cowan, na Austrália. O contato com outras culturas e lugares desconhecidos, a quebra da rotina, estimula o cérebro a absorver o novo, favorecendo a plasticidade dos neurônios. O prazer advindo dos estímulos sensoriais e da beleza do local mitigam sintomas de depressão e de ansiedade. Portanto, o imperador que ao final da vida pediu para morrer por causa do sofrimento físico por que passava tinha histórias para contar ao seu filho adotivo Marco sobre um mundo de experiências que ele viveu ao colocar o pé na estrada. Experiências que iam além de ideias pré-concebidas e de princípios abstratos encontrados nos livros. Depois de quilômetros rodados, Adriano podia dizer que sua vida, vivida encontrando pessoas, culturas e lugares diferentes, era rica o suficiente para esclarecer o que ele lia nos livros.

    Prezados leitores, Schopenhauer propunha um desapego das paixões como forma de evitar o sofrimento e atingir a felicidade possível nesta vida. O Adriano de Marguerite Yourcenar, inspirado no Adriano que viveu no segundo século da era cristã, propôs como roteiro existencial a eterna curiosidade pelas idiossincrasias do mundo, como a maneira de chegar à velhice sendo capaz de um olhar sobranceiro sobre o percurso feito. Envelhecer como uma águia, sobrevoando com olhar certeiro lá embaixo e focando naquilo que é importante no grande esquema das coisas. Eis mais uma lição filosófica sobre a boa vida.

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