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Quem se importa?

Posted by on 03/08/2015

Para fazer com que os camarões fiquem maiores e mais pesados, fornecedores inescrupulosos aparentemente estão injetando gelatina industrial para vendê-los em muitas partes da China. Recentemente os camarões com gelatina apareceram novamente em duas cidades, Kun Ming, no noroeste da província chinesa de Yunnan e Wenzhou no leste da China.

Trecho retirado de um artigo publicado em 30 de julho no jornal chinês online People’s Daily intitulado “Camarões com gelatina aparecem nos mercados de peixe da China novamente”

Os atletas nas Olimpíadas de Verão do próximo ano nadarão e remarão em águas tão contaminadas ocm fezes humanas que eles correm o risco de ficarem muito doentes e incapazes de competir no jogos, revela uma investigação da Associated Press. Uma análise feita pela AP da qualidade da água mostrou níveis perigosamente altos de vírus e bactérias derivados do esgoto humano nso locais de realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos – resultados que alarmaram os especialistas internacionais e desapontou os competidores que estão treinando no Rio, alguns dos quais já ficaram doentes com febre, vômito e diarreia

Trecho de um artigo escrito por Brad Brooks e publicaod no site da Associated Press em 30 de julho

A um ano dos Jogos, o Rio de Janeiro está no padrão Londres

Manchete da revista Veja de 5 de agosto sobre o fato de o Rio de Janeiro estar em dia com as obras das Olimpíadas

    Prezados leitores, nesta segunda-feira, o governador do Rio de Janeiro resolveu fazer um mea culpa a respeito da meta irrealista prometida em 2009 de que ao menos 80% do esgoto lançado in natura na Baía de Guanabara seria tratado. Na verdade atualmente em 2015, a exatos 365 dias do início dos Jogos Olímpicos de 2016, somente 50% do esgoto é tratado e continuará assim por algum tempo até que o dinheiro (12 bilhões de reais são necessários), a boa vontade política e o monitoramento das universidades e centros de pesquisa da qualidade da água concretizem-se. Coisa para 2035, se tudo correr conforme agora as autoridades prometem, autoridades essas que na época da candidatura da cidade foram no mínimo levianas ao prometerem algo que sabiam ser difícil cumprir, dadas nossas carências de dinheiro e de capacidade de planejamento e organização.

    Mas quem se importa com isso? A revista Veja desta semana dá a boa notícia de que as obras estão sendo realizadas no ritmo com que foram realizadas para os Jogos Olímpicos de Londres e, 2012. Embarcaremos na onda de otimismo e boa vontade na qual embarcamos em relação à Copa do Mundo, a despeito das evidências de que os estádios depois seriam inúteis, que houve superfaturamento na sobras e que a infraestrutura de transportes não foi entregue como prometido. Quanto à poluição da Baía de Guanabara, da praia de Copacabana e da Lagoa Rodrigo de Freitas, em que as competições aquáticas serão realizadas, talvez tenhamos a sorte de as bactérias e vírus proliferarem-se menos no inverno do que no auge do verão e os gringos conseguirão singrar as águas sujas tomando cuidado para não entrar em contato muito com a água. Tenho certeza que nossas autoridades darão um jeito para dar uma disfarçada, a capacidade de enganar dos poderosos brasileiros é ilimitada.

    Talvez seja ilimitada porque o povo quer ser enganado. De acordo com uma reportagem do jornal O Globo de 2 de agosto, o Rio de Janeiro já importou mais de 10.000 toneladas de peixe da China, principalmente o panga, que “ganhou as alcunhas de peixe-gato e peixe-lixo por ter sido, historicamente, cultivado no delta do rio Mekong, um dois mais poluídos do mundo.” As nossas competentíssimas autoridades, desta vez do Ministério da Pesca e Aquicultura realizaram duas missões para verificar as condições sanitárias dos criadores em 2009 e 2014 e acabaram conseguindo uma adequação das práticas chinesas às exigências para a exportação para o Brasil. Considerando os seguidos escândalos que irrompem na China a respeito de alimentos adulterados, incluindo o leite dado às pobres crianças, desconfio muito da possibilidade de certificação séria da qualidade desses produtos com base em duas meras visitas. O mais recente caso de trambicagem alimentar é o do camarão conforme descrito no início deste artigo.

    Minha falta de fé na fiscalização do Ministério da Pesca e Aquicultura tem fundamento em uma pequena história. Uma amiga minha, que até junho era professora de uma grande universidade privada em São Paulo, conta como as exigências do MEC a respeito da necessidade de biblioteca eram cumpridas por meio do aluguel do espaço de outras instituições e fingindo que era espaço próprio até que as autoridades educacionais vistoriassem a universidade. Se servidores públicos são facilmente enganáveis estando em seu próprio ambiente e questionando os fiscalizados em bom e inteligível português, que dirá quando estão em um país como a China de cultura totalmente diversa da nossa, em que a população fala uma língua absolutamente incompreensível? Mas talvez eu seja uma tremenda rabugenta e o Ministério da Pesca e Aquicultura, criado em 2009, esteja muito mais bem estruturado do que o Ministério da Educação e Cultura, criado em 1930.

    De qualquer forma quem se importa? Comer peixe intoxicado com metais pesados se não matar vai engordar,o importante é que é barato e os médicos nos dizem que carne de peixe é saudabilíssima, estão aí os longevos japoneses comedores de sushi que não nos deixam mentir (detalhe: os japoneses comem só atum pescado na Espanha em alto-mar)? Passar um pouco de vergonha nos Jogos Olímpicos quando os velejadores, canoístas e outros reclamarem das garrafas pet será um nada em comparação com a festa e a alegria dos brasileiros, para quem a esperança parece sempre triunfar sobre a realidade.

    Nossos políticos mentem para nós descaradamente, descrevendo um país dos sonhos do marqueteiro, prometendo coisas que sabem que não vão cumprir, e mais importante, que sabem que vamos esquecer. Democracia, para ser eficaz, exige vigilância constante e nós brasileiros somos muito fracos nesse quesito, não por falha genética, mas porque não temos tradição cultural de formação de associações para tratar de algum assunto de interesse de todos. Preferimos passar a bola (ou a batata quente) para um representante, uma autoridade em quem escolhemos confiar às vezes cegamente. Quando este ser, uma vez no poder, passa a tratar dos seus próprios interesses mesquinhos, ficamos bravos e partimos para o extremo oposto de considerá-lo o mais execrável dos seres. É o que estamos fazendo com Lula e Dilma agora, batendo nessas criaturas impiedosamente. Mas quem se importa? Daqui a algum tempo a dupla petista será carta fora do baralho e confiaremos em outro ou outra e novamente daremos com os burros n’água. De desimportância em desimportância vamos construindo nossa rica experiência democrática.

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