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O lado negro da força

Posted by on 29/11/2012
Deu no The Columbus Dispatch, um jornal de Ohio, Estados Unidos, em 13 de janeiro de 2012 (tradução minha):

            O Doutor Markus Schmidt, do Instituto de Medicina do Sono de Ohio explicou aos jornalistas que “o envio de mensagens de texto durante o sono é uma extensão natural da dependência das gerações mais jovens com relação às modernas tecnologias. O envio de mensagens de texto pelos adolescentes está tão entranahdo neles quanto dirigir um carro para os pais deles. Os adolescentes enviam tantas mensagens de texto  quando estão acordados que fazer isso ao dormir ocorre naturalmente. Vimos adolescentes que trocam 4.000 mensagens de texto por dia envinado menasagnes a vários amigos ao mesmo tempo. O adolescente médio  gasta uma hora e meia mandando mensagens de texto por dia, e um em cada três adolescentes manda mais de 100 delas por dia, de maneira que a atividade tornou-se uma habilidade inconsciente.Recomendamos que eles desativem o alerta sobre mensagens de texto na hora de dormir, mas muitos deles não fazem isso, porque querem estar conectados o tempo todo. O celular é sua conexão com o mundo, mesmo quando estão dormindo. Sem ele, sentem-se perdidos.”

              Manchete da Revista O Globo de 21 de outubro de 2012:

            Festas de esbórnia – brincadeiras com farta distribuição de bebida mudam o perfil da noite do Rio e provocam debate sobre a banalização do álcool entre jovens.

       Abro minha coluna semanal no Montblatt com essas duas pequenas notícias para realizar um contrapónto com minhas reclamações anteriores sobre meu professor marxista. Os que me lêem hão de lembrar que entre o comunismo e o capitalismo, fico com o último, porque para funcionar ele não precisa que as pessoas visem o bem comum e que desejem compartilhar o que têm com os outros. Como não acredito que o ser humano possa ser aprimorado, prefiro um sistema medíocre que não alimente grandes ideais de justiça e de regeneração da humanidade, mas que não tenha as mãos sujas do sangue dos que foram sacrificados em nome da radicalidade revolucionária. A esse respeito, considero tanto o nazismo, quanto o stalinismo, maoísmo e o leninismo como farinhas do mesmo saco, porque todos quiseram romper paradigmas, fossem eles econômicos, como na Rússia e China, fossem políticos e culturais, como na Alemanha.

           No entanto, não é possível negar o lado negro da força, quando falamos do capitalismo. Como o lucro é o único objetivo do sistema, vão sendo criadas muitas externalidades, para usar o jargão dos encomistas, conceito que pode ser resumido no seguinte: o capitalismo cria contas que algum dia, alguém em algum lugar da Terra terá que pagar: para ficar nos mais óbvios, temos o passivo ambiental e o passivo da desigualdade, que é um dos fatores da violência. E isso porque esta criação econômica europeia precisa de uma fonte inesgotável de consumidores que façam o sistema girar e consumidores só são conseguidos quando investe-se na carência das pessoas, não digo só a material, mas a cultural, espiritual e moral.Esses exemplos de comportamento dos jovens tirados da imprensa mostram bem isso.

           De um lado as crianças são introduzidas cada vez mais cedo no mundo dos aparelhos eletrônicos, o que foi grandemente facilitado pelas tecnologias touchscreen, que permitem a catataus de dois anos já manusearem os brinquedinhos, brinquedinhos esses que já os preparam parao seu papel de adquirentes de produtos, afinal dos joguinhos no celular passa-se ao twitter e ao perfil no facebook, onde os pirralhos vão ser bombardeados com anúncios de todo tipo. Por outro lado, o álcool está se tornando tão banal quando refrigerante. Presencio isso em inha faculdade, povoada de indivíduos em torno dos 20 anos, a maioria dos quais não tem o mínimo interesse intelectual pela lei e pela justiça, e portanto fogem das aulas como o diabo foge da cruz.  Como a natureza abomina o vácuo, é preciso achar algo para passar o tempo e nada melhor do que uma boa “breja”vendida no centro acadêmico. Já vi moçoilos vagando pelo pátio com copo na mão, e um dia fiquei estupefata ao me deparar com uma aluna totalmenbte bêbada urrando pelas arcadas. É claro que não posso ser ingênua e achar que não havia cachaceiros há 40, 50 anos, afinal a faculdade de direito no Brasil sempre foi refúgio de todo indivíduo que quer de algum modo se dar bem na vida, mas tenho certeza quenos antigamentes o vício prestava tributo à virtude.

             Vício, esta é a palavra-chave, o capitalismo, por ser imoral, é perfeito para estimular o vício nas pessoas, afinal o viciado é um consumidor compulsivo. Os nobres empresários que lucram aos borbotões com venda de maquiagens, bebibas e parafernálias eletrônicas a crianças têm na ponta da língua a resposta clássica liberal: “cabe aos pais impor limites”. Bingo! como diria o hilário coronel das SS Hans Landa do filme Bastardos Inglórios. Mas onde está a família? Onde está a autoridade dos pais que acabaram sendo nivelados aos filhos para propósitos mercadológicos?Como estabelecer hierarquia e respeito quando o sistema econômico faz todos desempenharem o mesmo papel de consumidores?

              Aqui está a grande externalidade do nosso sistema de trocas livres: os pioneiros dele, os puritanos protestantes de Max Weber, tinham como herança uma cultura cristã que lhes dava estofo moral, os fazia serem retos e econômicos para conseguirem a salvação eterna. Esse acervo culturaI foi perdido para sempre e não adianta chamar Inês de Castro que ela está morta e sue corpo já virou pó. As sociedades ocidentais estão passando por uma balcanização que prejudica muito a coesão social e o compartilhamento de valores: é negro contra branco, homossexual contra heterossexual, mulheres contra homens, cotistas contra não cotistas, evangélicos contra ateus, muçulmanos contra cristãos e por aí vai. Nossso capitalismo do século XXI é imoral como sempre foi, mas por não ter nenhum mecanismo de compensação dado por uma base espiritual há muito perdida, leva muitas vezes à delinquência e ao vício.

             Agora talvez meus leitores entendam o porquê de eu me rotular uma reacionária: tenho saudade do burguês quenunca conheci: reto, probo, pão duro, hipócrita, cuja ganância era temperada pelo seu medo da danação eterna. No lugar dele ficou o tuiteiro que leva a vida num Suzuki, não tá nem aí com ninguém, porque cada um que cuide de si. Por favor, quem vai chamar o Luke Skywalker?

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