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Pacto da mediocridade

Posted by on 29/11/2012

       Caros leitores do Montblatt nosso editor vira e mexe menciona o fato de que perdemos muitos assinantes por causa das críticas que são feitas aqui ao Lula e ao PT, críticas estas que desagradam os partidários do Lula e que os levam a achar que o Montblatt é um ninho de tucanos. Digo são feitas porque eu também visto a carapuça e confesso que critico. Na semana passada, para os que me leram,eu me coloquei contra a ideia de cotas na universidade por achar que em matéria de educação justiça social deve ser feita no ensino primário e secundário e não no terciário, pois há um valor maior que deve ser protegido nesse caso que é o mérito. O país precisa de ilhas de excelência para que possamos ter ideias novas, sair do marasmo intelectual, político, econômico em que vivemos. Sim, sob um certo ponto de vista, a despeito de o PT ser mais populista e o PSDB ser mais privatista, os dois se irmanam tanto na corrupção (Mensalão e Banestado) quanto na adesão incondicional a um pacto da mediocridade que reina entre nós.

         Quando surgiu esse pacto, será que talvez exista desde 1500? Ou será que teve início naquela tarde trágica de 5 de julho de 1982 quando o Brasil perdeu da Itália e iniciamos nossa decadência futebolística? É uma hipótese plausível para explicar a mediocridade do futebol brasileiro, considerando que naquele dia fizemos a opção de ganhar de qualquer maneira, mesmo à base de chuveirinhos na área, chutões, jogadas ensaiadas etc. O resultado foi que depois de 30 anos temos uma seleção brasileira que não ganha nada e joga muito feio, ou seja o pior dos mundos. Devo alertar meus leitores que não sou dessas que tentam explicar a alma nacional por metáforas do futebol, é um exercício divertido sem dúvida, mas não me leva a lugar nenhum. O Brasil em 1982 já enfrentava o problema da dívida, da estagflação, da desigualdade social, portanto não se pode dizer que 1982 tenha sido um divisor de águas.

        Avancemos três anos e enfoquemos o fim da ditadura e a subida ao poder de um presidente civil. Será que foi em 1985 que optamos pela mediocridade e nos contentamos com José Sarney como líder da transição democrática? Será que foi naquele 15 de março de 1985 que decidimos que ficaríamos satisfeitos com uma democracia meia-boca, um regime econômico meia-boca, uma ordem social que deixa a desejar (para usar um eufemismo)? Para responder a essa pergunta eu teria que fazer uma análise detalhada do Brasil antes de 1985 e depois de 1985 e verificar que opções foram feitas e como tais opções foram feitas. Como além de não ser filósofa do futebol também não estou aqui a desenvolver uma proposta de dissertação de mestrado ou de tese de doutorado, lanço a pergunta e ao mesmo tempo já desisto de respondê-la. Meu singelo objetivo aqui será o de identificar da maneira mais geral possível a mediocridade nesses três campos.

        Em primeiro lugar nossa democracia é medíocre porque ela não nos dá escolhas reais. Decidir entre PT e PSDB, para falar dos partidos que hoje dominam a cena nacional, não contribui nada para decidirmos que tipo de papel queremos que o Estado tenha. Um e outro fizeram a opção preferencial por subordinar a capacidade de atuação do Estado brasileiro ao imperativo de manter o sistema financeiro internacional funcionando. FHC, Lula e agora Dilma em nada mudaram nossafunção de comprar títulos do governo americano para modestamente ajudá-los a resolver seu problema de déficit e vendermos internamente títulos de dívida do governo para cobrirmos nosso próprio déficit. A eterna falta de dinheiro que temos para as coisas de que o Estado brasileiro deveria se ocupar é mera consequência, assim como os truques na cartola de que tanto o PT quanto o PSDB valem para remediar o estrago: PPPs, PACs, Empresa Brasileira de Logística são todos expedientes de um Executivo que há mais de 30 anos optou por não ter dinheiro para investir em infraestrutura comme il faut, isto é não como mais uma fonte de negócios para a iniciativa privada, mas como objetivo de proporcionar um bem públicoque deveria ser de fácil acesso a toda a população.

       A esse reciclar de ideias medíocres do PT e do PSDB que atualmente caracteriza nossa democracia agora parece se juntar um componente religioso pela ascensão dos evangélicos ao poder. Não haveria nada de mais se eles pudessem traduzir seu esquema de valores particular em políticas que procurassem resolver os problemas práticos da população. A decisão do candidato Celso Russomano em São Paulo de não participar de debates parece mostrar que os evangélicos utilizarão o discurso sobre Deus mais como um bode expiatório para angariar votos de pessoas que são contra certa modernidades como casamento de gays do que para propor visões alternativas de organização da coisa pública.

            Quando falo de regime econômico meia-bocarefiro-me a uma economia que cresce na base dos empurrõezinhos: uma ajudazinha da China aqui que precisa dos nossos recursos naturais, uma isenção de impostos ali que dá um fôlego maior ao consumo, mas eu pergunto a vocês, leitores do Montblatt: o que estamos fazendo para aumentarmos a produtividade da economiae assim tornarmos o crescimento sustentável? Estamos aumentando o investimento em relação ao PIB (19,3% em 2011, para comparar a taxa da China é de 47% e a da Índia 32%)? Estamos qualificando nossa mão de obra (o menor índice de desemprego desde 2004 seria uma grande notícia se não houvesse um enorme contingente de jovens que não têm qualificações mínimas para entrarno mercado de trabalho- dois em cada dez jovens brasileiros entre 18 e 20 anos não estudam nem trabalham)?

           Qualificar nossa população é fundamental, considerando que estamos envelhecendo a passos largos e teremos que trabalhar cada vez mais anos para nos sustentarmos. E aqui falo do terceiro e último campo onde reina o chinfrim, que é a ordem social. OK, o bolsa família é imprescindível e palmas a FHC por tê-lo iniciado e a Lula por tê-lo ampliado, mas é preciso ir além de dar comida e capacitar as pessoas. E para isso não basta mais dinheiro, mais fatias do orçamento destinadas à educação, é preciso sair do marasmo. A educação no Brasil, do ensino primário à faculdade, é uma grande decoreba que facilita o trabalho dos professores, torna os alunos malandros e a escola uma perda de tempo para jovens que podem ter acesso a qualquer informação em um passeio rápido pelo Google. Temos que ensinar as pessoas a pensar, a resolver problemas práticos. Não vejo nenhum debate sério que se desenrole no Brasil sobre educação que não vá além da questão material (mais prédios, mais salário, mais piscinas, mais teatro, mais esportes, mais lazer). É preciso focar no essencial: tornar os brasileiros aptos a produzirem no e para o século XXI.

           Pronto, mostrei o que quis dizer com pacto da mediocridade. Nós brasileiros há muito tempo nos contentamos com pouco, quem há de nos inspirar a almejar as estrelas?

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