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So sei que nada sei

Posted by on 08/01/2013

“As mulheres, que provocam com suas roupas justas, que se afastam da vida virtuosa e da família, provocam os instintos e devem realizar um exame de consciência, se perguntando: é possível que o busquemos?”.

“O fato é que as mulheres estão cada vez mais provocadoras, elas se tornam arrogantes,acreditam ser auto-suficientes e acabam exacerbando a situação.Quantas relações adúlteras são estabelecidas, no trabalho, no cinema, nas academias de ginástica?É assim que se chega à violência e aos abusos sexuais.”

“Mas se você não sente nada quando vê uma mulher passar nua na sua frente, isso significa que é gay.”

“As crianças são abandonadas à própria sorte, as casas são sujas, as refeições são comida congelada ou fast food, as roupas são nojentas.”

Trechos extraídos de um panfleto intitulado “As mulheres e o
feminicídio-auto crítica saudável, quanto elas provocam?” publicado
no facebook e na porta da sua paróquia pelo Padre Piero Corsi da
Ligúria, na Itália.

“Há neste país uma indústria que funciona nas sombras, cruel, corrupta e corruptora, que vende e semeia violência contra seu próprio povo.”

“Em uma corrida para o fundo do poço, os conglomerados de mídia competem entre si para chocar, violar e ofender todos os padrões da sociedade civilizada trazendo para dentro de nossos lares uma combinação cada vez mais tóxica de comportamento inconsequente e crueldade criminosa — a cada minuto, a cada dia de cada mês de cada ano.”

“Uma criança americana terá presenciado 16.000 assassinatos e 200.000 atos de violência quando tiver atingido a idade de 18 anos.”

                                                 Partes da conferência de
imprensa dada por Wayne LaPierre, presidente da National Rifle
Association, a principal associação que defende o direito ao porte de
armas nos EUA, dada em 21 de dezembro de 2012depois do massacre
em Newton, Connecticut, em que 20 crianças foram mortas em uma escola.

      Prezados leitores, sempre quando acontece alguma tragédia presenciamos a torrente de explicações dos ditos especialistas, que podem incluir educadores, psicólogos, médicos, economistas e palpiteiros de todo gênero a respeito de qual seria o motivo. No primeiro caso, o padre italianotentava entender o porquê de 108 mulheres em 2012 terem sido assassinadas na Itália pelo ex-marido, marido, companheiro ou ex-companheiro. Para o padre, se as mulheres voltassem a ser recatadas, voltassem a cumprir seus tradicionais papéis domésticos de pilota de cozinha, rainha do lar, esposa cordata, os homensnão se sentiriam tentados a ceder a seus baixos instintos.

      Não há como negar que muito do que o padre descreve não está longe da realidade. A entrada da mulher no mercado de trabalho provocou uma revolução na família, e um dos efeitos colaterais foi este, o de que não há mais uma pessoa realmente responsável pelo bom funcionamento do lar. Atualmente, nas famílias de classe média, homens e mulheres se desdobram para trabalhar e dar conta dos filhos. E o efeito colateral é que muitas vezes os pimpolhos passam mais tempo sozinhos no computador, navegando nas redes sociais, do que conversando com seus pais. Ou então comem na frente da televisãoaquilo que mamãe arranjou às pressas ou deixou na geladeira para o filho.

      As crianças comem pior, a casa fica mais suja, mas será que os homens ficam mais violentos pelo novo comportamento liberado das mulheres? Será que os estupros, assassinatos, ataques físicos não são uma constante contrao sexo frágil em todas as sociedades? As mulheres foram despojos de guerra, vendidas como escravas, casadas pelos pais independentemente da vontade delas por toda a história. Este período de relativa paz de que nós gozamos em alguns países e em certas classes sociais do dito Mundo Ocidental é algo expecional e deve ser motivo de regogizo.

    É verdade que houve um lado negro da emancipação feminina: comida congelada, obesidade, vulgaridade, minisaias a qualquer tempo e lugar (fui à missa de Natal no colégio em que estudei e me espantei com a quantidade de mulheres mostrando as coxas à Nossa Senhora). No entanto, a concupiscência masculina estará sempre presente em nosso mundo, independentemente do que a mulher possa fazer para provocar um homem, e a mim me parece leviano querer estabelecer conclusões sobre um suposto aumento das agressões masculinas devido ao que as mulheres se transformaram no mundo pós-feminista.

     Afinal, o padre por um acaso comparou os índices de violência de antanho com os índices atuais? Isolou os outros fatores que poderiam determinar o comportamento masculino, como o desemprego, problemas de saúde, níveis hormonais, local da agressão (isolado, movimentado, escuro, iluminado)?Se não o fez, não passa de um palpiteiro preconceituoso. Eu particularmente prefiro um mundo em que as mulheres não sejam mais exímias cozinheiras, quituteiras, arrumadeiras e lavadeiras, mas que possam ter a liberdade de escolher seu destino.

     No segundo caso, a respeito de Adam Lanza, de 20 anos, que supostamente matou 26 pessoas incluindo a mãe, o campo é ainda mais minado para que as opiniões possam ser levadas em conta, já que as posições são em sua maioria ideológicas. As pessoas de esquerda vão deplorar a defesa ferrenha que os conservadores fazem da Segunda Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que dá aos cidadãos o direito de ter armase vão usar mais um massacre perpetrado em escolas como motivo para obrigar os americanos a dar suas armas ao governo. As pessoas de direita baterão na tecla de que não é a arma que mata, são os homens, e que o problema está na sociedade permissiva em que as crianças passam o tempo todo assistindo a filmes violentos, ouvindo músicas que glorificam a violência, jogando video games em que o objetivo é matar o maior número de pessoas possível.

      Quem tem razão? O fato é que já em 29 de dezembro de 1890, muito antes das famílias “desmoronarem” pela entrada da mulher no mercado de trabalho e pelo aumento dos divórcios, muito antes do Nintendo e do Wii, houve um massacre de cerca de 500 índiosem Wounded Knee, nos Estados Unidos. Nesse sentido, considerar as matanças que têm ocorrido nos EUA como algo novo, fruto da libertinagem moderna,ou do aumento do número de armas de posse dos indivíduos, é no mínimo ignorância.

     Meus caros leitores, isso tudo para dizer que o mal está presente no mundo de variadas formas e a tendência humana de querer explicações para tudo tem seu limite no fato de que muito do que ocorre em nossa volta está além da nossa capacidade de compreensão, seja por haver múltiplas causas, seja por ser obra do acaso, ou seja, da falta de causa. Minha utilização da palavra “mal” é uma manifestação do meu próprio sentimento de impotência. Não há nenhuma conotação religiosa nela, apenas uma tentativa de dar um nome a tudo aquilo que o bicho homem faz nesta Terra e que nunca deixará de fazer, por mais que queiramos aperfeiçoar nossa natureza.

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