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Sobre outras guerras

Posted by on 20/07/2014

Quando nacionalistas cubanos levantaram-se contra a Espanha em 1895, a simpatia dos Estados Unidos pelos rebeldes foi estimulada pelos relatos da “imprensa amarela” sobre supostas atrocidades cometidas pelos espanhóis. Em que pese ter sido de causa indeterminada, o afundamento no porto de Havana do navio americano Maine (15 de fevereiro de 1898) causou reação na imprensa e o furor do público. A Espanha anunciou um armistício (9 de abril), mas os Estados Unidos emitiram resoluções que declararam o direito de Cuba à independência, exigiram a retirada da Espanha, autorizaram o uso da força pelo Presidente e renunciaram a qualquer intenção dos Estados Unidos de anexar Cuba.

Trecho retirado do verbete da Enciclopédia Britânica sobre a guerra entre Espanha e Estados Unidos travada em 1898

Às três da tarde (horário de Greenwich) o Capitão Herrick ordeneu à tripulação do Ogier que abrisse fogo se os torpedeiros se aproximassem e ficassem a uma distânciade nove quilômetros. Por volta das três e cinco, o Maddoxfez três disparos para rechaçar os torpedeiros comunistas. Essa ação inicial nunca foi relatada pelo governo de Johnson, que insistiu que foram os torpedeiros vietnamitas que atiraram primeiro.

Trecho de um relatório elaborado em2005 pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidossobre o episódio ocorrido no Golfo de Tonkin no Vietnã, em 1964. O relatório concluiu que no dia 4 de agosto daquele ano não havia nenhuma embarcação norte-vietnamita, ao contrário do que alegara o governo americano.

        Prezados leitores, antes de mais nada, é preciso dizer que a culpa pela morte dos 298 passageiros a bordo do Boeing 777 da Malaysia Airlines, abatido por um míssil na Ucrânia,é do Putin. Quem mais teria a capacidade e a vontade de fornecer um míssel a esses famigerados rebeldes separatistas da Ucrânia? Quem mais tem a crueldade e o cinismo do neoimperialista, nazista, chauvinista presidente da Rússia? Quem mais manipula seu povo abestalhado que acredita nas quimeras nacionalistas que ele lhes oferece e lhe dá 83% de aprovação? A autoria deste atentado atroz que ceifou a vida de civis inocentes é tão óbvia que os Estados Unidos em pouco mais de 24 horas depois do acidente, deposse de evidências incontestáveis, já tinha a resposta na ponta da língua do Prêmio Nobel da Paz, Barack Obama: Vlad, o terrível, a maior ameaça à paz mundial neste século, com o intuito de colocar mais lenha na fogueira da separação da Ucrânia, forneceu os equipamentos e a expertise para que os terroristas disparassem o Buk.

         Nesta história de horrores, é um alívio saber que temos os Estados Unidos, o farol da liberdade e da democracia no mundo, o benfeitor do Iraque, do Afeganistão, do Iêmen, da Síria, da Líbia, do Sudão, e de todos os países, onde os americanos ensinam os nativos a votar e a sematarem entre si. É um alívio porque só o governo americano poderános contar a verdade de maneira imediata, sem intermediários, sem tergiversações, só ele conseguirá desmascarar ditadores sanguinários e insandecidos como o perseguidor das minorias sexuais Putin que não vai descansar enquanto não refizer as fronteiras da antiga União Soviética. Os Estados Unidos como sempre já cumpriram sua obrigação, já nos encheram de indignação diante da morte estúpida dos passageiros do vôo MH17. Agora a comunidade internacional deve agir contra a Rússia, aplicando-lhe sanções econômicas e retaliações à altura da barbárie cometida. Certo?

            Errado, na minha modestíssima opinião. Meu intento não é convencer ninguém que Vladimir Putin é coroinha de missa ou que os rebeldes pró-Rússia que querem se separar da Ucrânia não são capazes de nenhuma violência. Meu propósito é simplesmente chamar-lhes a atenção para episódios históricos em que os Estados Unidos se envolveram e que serviram de justificativa para sua intervenção militar, normalmente como reação de legítima defesa contra um ataque injusto do inimigo. O script é sempre o mesmo: cria-se o demônio para depois abatê-lo sem dó nem piedade, a bem da justiça. Vejamos.

       No primeiro caso, no final do século XIX, a imprensa sensacionalista americana, capitaneada por William Randolph Hearst, pintou a Espanha como a colonizadora decadente opressora dos países do continente americano. O afundamento do Maine foi a gota d´água e como resultado da guerra que se seguiu os Estados Unidos obtiveram Guam, Porto Rico e as Filipinas.No segundo caso, a história contada pelo governo de Lyndon Johnson ao seu povo, de que torpedeiros vietnamitas haviam disparado contra os americanos em 4 de agosto de 1964 teve como efeito imediato a aprovação pelo Congresso americano da resolução do Golfo de Tonkin, que concedia ao Presidente a permissão de ajudar qualquer país do Sudeste Asiático cujo governo fosse considerado como prejudicado pela agressão comunista.Em suma,a resolução serviu de justificativa legal para que Johnson enviasse tropas ao Vietnã para combater os vietcongs, aumentando a intensidade do conflito que já se desenrolava na Indochina desde 1955. A guerra do Vietnã, que duraria até 1975, com a tomada de Saigon pelo norte-vietnamitas, ceifaria a vida de mais deum milhão de pessoas.

        Mais recentemente, para justificar a invasão do Iraque em março de 2003, George Bush e Tony Blair alegaram que Saddam Hussein acumulara uma vasta quantidade de armas de destruição em massa, o que configurava uma ameaça à paz mundial. Em 2008 uma Comissão do Senado dos Estados Unidos chegou à conclusão de que o governo de George Bush sobrestimou a ameaça colocada pelo Iraque, apresentando de maneira distorcida as informações obtidas pelos órgãos de inteligência americanos sobre o programa nuclear do Iraque. O próprio George Bush, que pintara Saddam Hussein como encarnação do demônio, admitiu em dezembro de 2008 que seu maior arrependimento havia sido a falha na obtenção de informações fidedignas a respeito da letalidade do Iraque.As estimativas variam em relação ao número de mortos no Iraque, que pode ter ultrapassado 500.000 desde 2003.

         Prezados leitores, eu poderia também falar de Pearl Harbor e a pretensa surpresa do ataque japonês aos americanos, mas deste já falei há algum tempo e não quero repetir-me.Esses três episódiossão suficientes para mostrar que é no mínimo temerário, ante os antecedentes históricos, confiarmos nas evidências que os Estados Unidos mostram ao mundo para comprovar a justeza da sua causa. O ideal seria que pudesse haver uma investigação séria do episódio, sem conclusões precipitadas, sem achismos baseados em declaraçõescolocadas na internet. Infelizmente é pouco provável que a isenção prevaleça, porque os ânimos estão acirrados, há interesses de todos os lados de continuar alimentando o fogo das hostilidades. Ainda é cedo para dizer qual serão os resultados deste incidente, mas em vista do que a história nos ensina ele promete prenunciar destruição e morte em nome de nobres ideais.

2 Responses to Sobre outras guerras

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