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Que esquerda, que direita?

Posted by on 01/06/2015

É de suma importância que o povo francês saiba a respeito do conteúdo do Acordo Transpacífico e suas motivações para ser capaz de lutar contra ele. Porque nossos compatriotas devem decidir sobre seu futuro, porque eles devem impor um modelo de sociedade que lhes seja adaptado, e não um modelo forçado pelas empresas multinacionais sedentas de lucros. Os tecnocratas de Bruxelas comprados pelos lobbies e os políticos da UMP [o partido do ex-presidente Sarkozy] que são subservientes a esses tecnocratas.

Pronunciamento de Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, sobre o que promete ser o maior bloco comercial do planeta, reunindo Estados Unidos, Canadá, México, Japão, Vietnã, Cingapura, Brunei, Malásia, Austrália, Nova Zelândia, Peru e Chile.

Benjamin Nétanyahou respira melhor. Israel teve um alívio, graças à anulação no último minuto da votação, durante o Congresso da FIFA no dia 29 de maio, da suspensão da federação israelense de futebol. O primeiro-ministro temia um efeito dominó, no seio de outras instâncias, no caso do sucesso dessa manobra “provocadora”. Mas, de acordo com suas próprias palavras, não é mais do que a primeira pedra de um longo caminho. “Não há nenhuma justificativa para a campanha de deslegitimização lançada contra o Estado de Israel, que consiste em tentar suspender-nos das organizações internacionais”, garantiu Nétanyahou, no domingo, durante o conselho de ministros.

Trecho de artigo publicado na edição eletrônica do jornal Le Monde de 1 de junho, intitulado “Nétanyahou denuncia uma campanha contra Israel”

    Prezados leitores, nos últimos dias tentei colocar minha leitura de jornais em dia, depois de um mês de férias. Para isso li a edição dominical do O Globo que um jornaleiro guardou para mim ao longo de cinco semanas. Uma das coisas que chamou minha atenção foi um questionário para a identificação do perfil ideológico da pessoa de acordo com suas ideias sobre violência e defesa do cidadão, combate à pobreza, cotas nas universidades, direitos trabalhistas, tributos, pena de morte, migração, movimento sindical, redução da maioridade penal e homossexualismo. De acordo com minhas respostas sou de centro-direita, mas tal classificação não me satisfez. Não porque tenha vergonha de assumir minhas posições. Caso tivesse eu não escreveria artigos semanais neste meu humilde espaço,, mas porque acho que em nosso mundo globalizado as posições estão muito confusas. Tentarei explicar-me.

    Não nego que diante de um caso como o do adolescente de 16 anos suspeito de matar um médico na Lagoa, no Rio de Janeiro, a facadas, não consigo concordar com aqueles que enfatizam o mal social, a falta de atenção da família e do Estado para explicar a crueldade do homicida que esfaqueou Jaime Gold pelas costas. No final das contas, isso torna o adolescente uma vítima da sociedade, que não deve ser responsabilizada pelo que fez de maneira integral. Fazer dele um coitado tira o mérito de pessoas pobres que enfrentaram as mesmas dificuldades que esse moço enfrentou e que no entanto não têm 15 passagens pela polícia como o presumido assassino tem. E na minha opinião é preciso fazer diferenciações entre as pessoas que prejudicam o convívio social e aquelas que contribuem para a vida em sociedade, do contrário chegaremos a uma situação em que tudo é desculpável por ser explicável e cairemos na anomia social de que falava Émile Durkheim, se é que já não estamos nela: se não conseguimos distinguir claramente entre aquele que trilha o caminho correto e aquele que trilha o caminho errado, se relativizamos tudo com explicações sociológicas, antropológicas e médicas como estabelecer valores para formar as gerações futuras?

    Portanto, não há dúvida de que sou mais da turma da linha dura com os bandidos do que da turma daqueles que acreditam no ideal iluminista de que a educação resolve tudo, como se não houvesse seres humanos imunes a qualquer tentativa de aprimoramento. Por outro lado, eu não compactuo com a maioria das posições econômicas consideradas de direita no Brasil, mas que lá fora podem ser de direita ou de esquerda, a depender do país. Um assunto hoje envolto em grande polêmica é o tratado comercial que está sendo negociado secretamente por um bloco de países que reúne 40% do PIB mundial e tem 793 milhões de consumidores, de acordo com o portal do O Globo.

    Está aí algo perigossíssimo, cujo objetivo é passar por cima das regras arduamente negociadas no seio da Organização Mundial do Comércio, na qual os Estados Unidos não têm a predominância absoluta que gostaria de ter, e estabelecer a supremacia de um tratado internacional sobre as leis e o Judiciário dos países. Se o TTIP for aprovado, as empresas multinacionais terão mais condições ainda de enfrentar governos soberanos de igual para igual e poderão resolver suas pendências em matéria trabalhista, ambiental e financeira de maneira rápida e inapelável em câmaras de arbitragem reduzindo direitos humanos e danos ecológicos a uma mera questão de aplicação de normas de liberalização do comércio. No Brasil, muitos doutos economistas lamentam o fato de estarmos de fora desse acordo e preferirmos a companhia de bolivarianos e outros pobrecitos da América do Sul. Pois bem, considero que nesse sentido seria muito mais fácil que num governo do PSDB aderíssemos a um tratado sinistro como esse, que vem empacotado como incentivo ao crescimento econômico global. Paradoxalmente, apesar de no Brasil ser contra o TTIP seja considerado ser de esquerda, na Europa o único líder político que está denunciando as implicações dessa carta branca à atuação das multinacionais é Marine Le Pen, que está à direita da direita tradicional na França, representada no país pelos gaullistas, e cuja principal bandeira é a resistência à União Europeia.

    Aliás, a respeito da tendência americana de querer impor suas leis a todo mundo, verificada na sua liderança das negociações do TTIP, considero-me igualmente mais inclinada a alinhar-me com a esquerda que denuncia essas ingerências americanas. Esse embroglio da FIFA é exemplar nesse sentido. Os Estados Unidos deram-se o direito de prender cartolas na Suíça porque um tribunal seu considerou em 2014 que a lei de combate a organizações criminosas de 1970 pode ser aplicada fora do país, desde que estruturas americanas sejam usadas para cometer ilícitos. Não estou aqui a defender José Maria Marin, Joseph Blatter, Ricardo Teixeira e outros que têm ganhado rios de dinheiro explorando o futebol. Mas como o próprio Blatter disse em entrevista A RTS, a TV pública suíça, essa indignação moral americana com os desmandos do futebol vem exatamente depois de os Estados Unidos terem perdido a disputa da sede da Copa de 2022. As prisões aconteceram um dia antes de uma votação em que Israel poderia ter sido suspenso das instâncias internacionais do futebol pelas graves violações de direitos humanos na Faixa de Gaza. E como sabemos, Israel e Estados Unidos são unha e carne. Em suma, esse afã de moralizar o futebol parece ser motivado pelo despeito dos perdedores e para criar uma cortina de fumaça em um dia em que Israel poderia ter se tornado um pária como foi outrora a África do Sul do apartheid. Mas claro que no Brasil a luta contra os desmandos no futebol, por mais que José Maria Marin e os outros presos sirvam como bodes expiatórios, será defendida tanto pela Veja quanto pela Carta Capital.

    Em suma leitores, posso até ser de centro-direita, mas non troppo. Em um mundo em que socialistas juntam-se a capitalistas para impor goela abaixo do povo estruturas transnacionais que não respondem a ninguém além delas mesmas, como a União Europeia e o TTIP, fica difícil estabelecer muito bem as fronteiras políticas. Fica a pergunta: o que é ser de direita e o que é ser de esquerda na nossa aldeia global?

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