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Me engana que eu gosto

Posted by on 30/06/2015

[…] os designers de moda Dolce e Gabbana, agora vítimas de um boicote organizado depois de uma entrevista dada a um programa italiano em que Domenico Dolce disse que a procriação “deveria ser um ato de amor”. O siciliano de 56 anos pronunciou-se contra a inseminação artificial, afirmando: “Você nasce e tem um pai e uma mãe. Pelo menos deveria ser assim. É por isso que não estou convencido pelo que eu chamo de bebês químicos, sintéticos. São barrigas de aluguel, sêmen escolhido por catálogo. E depois você tem que explicar à criança quem é a mãe dela.” Quando perguntado se gostaria de ser pai, Dolce respondeu: “Eu sou gay. Eu não posso ter filhos. Não acredito que possamos ter tudo na vida.”

Trecho retirado do artigo “Católicos: cuidado com os boicotes” publicado na revista Catholic Herald de 20 de março de 2015

“Se puder salvar a União sem libertar nenhum escravo, farei isso. Se puder salvar a União libertando alguns e não tocando em outros, farei isso.” O que aconteceu é que no terceiro ano de sua administração, ele libertou todos os escravos nos estados que se haviam rebelado, mas manteve a escravatura nos estados fronteiriços que haviam permanecido leais à União.

Trecho do ensaio “Uma nota sobre Abraham Lincoln” de Gore Vidal (1925-2012), publicado em 8 de fevereiro de 1981

    Prezados leitores, nesta semana vou entrar em um campo minado, abordando dois assuntos já surrados de tanto serem explorados, mas que me causam muita indignação. Falo da acusação tão frequentemente lançada por muitos de homofobia e de racismo. Isso começou ao norte do Equador, mas por aqui chegou e veio para ficar. Não pretendo aqui mudar as convicções morais de ninguém, apenas realçar as premissas dos argumentos dos que lutam contra esses dois males para mostrar que não são tão neutros e objetivos como querem fazer crer.

    Nestas duas últimas semanas, quando desço a escada rolante do metrô tenho deparado-me com cartazes com declarações de celebridades, que atualmente ocupam o pael de formadores d eopinião que ocupavam os intelectuais franceses na década de 60. Todas elas denunciavam a homofobia como algo “demodê” e de acordo com Adriane Galisteu, a única personagem que eu conhecia, era “uma ignorância na acepção plena da palavra”. De fato, o discurso politicamente correto pelos direitos dos homossexuais sempre bate na mesma tecla, a de que tal postura é atual, reflete a modernidade. Tanto é assim que Elton John, cantor britânico que têm dois filhos fruto de inseminação artificial, liderou a ação de boicote dos dois sicilianos gays por meio da hashtag #BoycottDolceGabban declarando no Instagram que “O seu pensamento arcaico está fora de sintonia com os tempos, assim como a sua moda. Nunca mais vou usar roupas do Dolce e Gabanna.”

    Assim, veem-se dois gays que se atrevem a ter uma concepção religiosa da família e da concepção, serem tachados de antiquados. Agora pergunto: por que ater-se a determinados val,ores tradicionais é necessariamente ruim? por que devemos pressupor que tudo que é moderno é bom, que o mundo está sempre progredindo? Será que é um anátema pensar que há coisas louváveis na modernidade mas também coisas criticáveis? Por que os defensores dos direitos das minorias fazem questão de colocar no mesmo saco, como homofóbicos execráveis, aqueles que por problemas psicológicos sérios fazem dos gays bodes expiatórios e os atacam e matam, e aqueles que simplesmente são contra inseminação artificial, contra o casamento gay por cultivarem certos valores? O resultado é que pessoas decentes como Dolce e Gabanna que por sua carreira bem-sucedida até promovem a causa gay por mostrarem o talento dos homossexuais em determinadas áreas são ostracizados da mesma maneira que os que na Turquia jogam gás lacrimogêneo em participantes de uma parada gay, como ocorreu nesta segunda-feira.

    Condena-se assim pelas palavras pronunciadas por quem tem coragem de expor suas opiniões tão inapelávelmente quanto pelos atos de violência perpetrados covardemente contra homossexuais. Uma lástima que nossa sociedade não queira diferenciar entre uns e outros, mas algo que não surpreende,a final o objetivo aqui é simplesmente impor uma determinada visão de mundo mais moderna e portanto, melhor, o que não necessariamente contribuirá para uma mlehor convivência entre os diferentes na sociedade.

    Quanto ao racismo, ele esteve em voga recentemente nos Estados Unidos por um prisma trágico: o assassinato em 17 de junho de 2015 de nove negros na cidade de Charleston por Dylan Roof de 21 anos. Seria mais um caso de um louco que precisa de bodes expiatórios se não tivesse trazido consequências para pessoas que jamais pensariam em matar alguém. Por ter sido flagrado brandindo a bandeira dos Estados Confederados que em 1861 quiseram separar-se dos Estados Unidos da América isso levou a uma condenação da própria exibição da bandeira vermelha e preta como um símbolo de racismo. Os Estados de Virgínia e Maryland decidiram retirar o símbolo da bandeira das placas de carros e o Estado de Alabama retirou-a do capitólio. A Apple anunciou que tirará de linha jogos da Appstore que tenham a bandeira confederada, e Walmart, eBay, Seras, Target, Etsy e Amazon também a baniram.

    Na mesma linha do que aventei a respeito da homofobia, lanço as seguintes perguntas: por que considerar que toda pessoa que use a bandeira dos Estados americanos secessionistas porter orgulho de suas raízes seja tão digna de opróbio quanto um assassino? Será que ao colocar psicopatas e tradicionlaistas no mesmo saco dos racistas não há uma intenção subrrepitícia, qual seja a de impor a versão dos vencedores da Guerra Civil? O presidente americano Abraham Lincoln (1809-1865) ficou na história como o herói libertador dos escravos quando na verdade ele só o fez para enfraquecer os Estados do Sul e ganhar a guerra preservando assim a União. Lincoln era um homem do seu tempo e acalentou o projeto de mandar os escravos libertos de volta à África, porque considerava que a convivência entre pretos e brancos seria impossível.

    Nesse sentido, achar de racistas retrógrados todos os descendentes dos sulistas que morreram na guerra e que usam a bandeira confederada para honrar seus antepassados, sua cultura e seus valores próprios é uma maneira esperta de impor a versão edulcorada da história pela qual a vitória do Norte sobre o Sul preservou a União e deu direitos aos escravos, quando uma versão apócrifa coincidentemente partilhada por muitos sulistas, diz que desde o fim da Guerra Civil o poder federal só fez aumentar às custas da autonomia dos Estados o que viola a ideia original da Constituição dos Estados Unidos da América.

    Prezados leitores, num mundo pós-religioso o politicamente correto é a nova religião, com seus rituais de execração, suas proibições, seus papas e suas bruxas. Ela está sendo imposta goela abaixo a todos os recalcitrantes como algo progressivo e portanto necessariamente bom. Me engana que eu gosto.

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