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E o nosso Tattoo?

Posted by on 26/07/2017

Assim, em que pese serem facilmente enganados, eles [os jovens] também são corajosos por causa do seu otimismo e confiança, e portanto não têm medo. Não tendo sido desgastados pela vida ou prejudicados por limitações, ele são magnânimos, que é “achar-se digno de grandes coisas, o que é característico das pessoas que nutrem grandes esperanças.” […] Presa fácil da exploração, em outras palavras por um fantasista como Corbyn que, com sua política de distribuir benesses e prometer um mundo ideal, caiu nas graças daqueles com potencial e muitas qualidades, mas nenhuma experiência (usus) ou memória (memoria), as duas qualidades que o poeta romano Lucius Afranius disse que eram os ‘pais da sabedoria’ (sapientia).

Trecho do artigo “O voto dos jovens em Corbyn” do classicista britânico Peter Jones

    Prezados leitores, aqueles que acompanham os acontecimentos internacionais sabem que no Reino Unido houve eleições em 8 de junho, convocadas pela primeira-ministra Theresa May. O objetivo dela era conquistar uma vitória esmagadora que lhe desse um mandato para negociar as condições da saída do país da União Europeia em uma posição de força. Parecia fácil a princípio, considerando que o líder do Partido Trabalhista era considerado como um aloprado, defensor do IRA, do Hesbollah e do Hamas, grupos considerados terroristas pela soi-disant comunidade internacional. Pois bem, a líder do partido Conservador deu com os burros n’água, pois levou os tories a perder 13 assentos no parlamento em relação ao que tinham antes, o que os obrigou a ter que compor-se com o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte para formar um governo. Enquanto isso, o até então impensável Jeremy Corbyn conquistou 30 assentos no parlamento em relação ao que os trabalhistas tinham antes, o melhor desempenho do partido desde a vitória acachapante de Tony Blair em 2001.

    Como explicar a vitória de Jeremy Corbyn? Seu principal feito foi ter tocado o coração dos jovens, prometendo universidade de graça para eles. A identificação com o líder trabalhista aumentou o comparecimento às urnas dos eleitores na faixa etária de 18 a 24 anos, em que os trabalhistas deram uma lavada de 35 pontos sobre os conservadores. Além disso, a realidade econômica do país, não muito favorável aos jovens, faz com que a conversa socialista de Corbyn seja música nos ouvidos daqueles para os quais está cada vez mais difícil entusiasmar-se com o capitalismo quando não é possível ser capitalista. De fato, nos últimos 20 anos a idade média daqueles que adquirem casa própria no Reino Unido aumentou 10%, de forma que se 1994-1995 era aos 30 anos que isso ocorria, em 2014-2015 passou a ser aos 33 anos, sendo que o número de pessoas com casa própria está no nível mais baixo desde 1986.

    Esse papel surpreendente e crucial dos jovens britânicos na transformação de um político que parecia fora de compasso em um candidato factível ao posto de primeiro-ministro dá o que pensar se considerarmos o Brasil e as eleições de 2018. Atualmente a taxa de desemprego daqueles entre 18 e 24 anos está em 31,8% em nosso país, ante a média geral de 13,7% no primeiro trimestre de 2017. Essa geração já tem um nome aqui, é chamada nem-nem, formada por um contingente de pessoas que nem estuda nem trabalha. Mas vota, e pode decidir a eleição presidencial se ela for apertada como foi a de 2014, o que deixou um rastro de rancor e desejo de vingança cujos desdobramentos estamos testemunhando desde o impeachment da “pedaleira” Dilma Rousseff. Em que pese constituírem só 16% dos eleitores brasileiros, os indivíduos de 17 a 24 anos de idade, que estão sendo os mais atingidos pela recessão no país, podem, se atuarem de maneira consistente, serem os fiéis da balança eleitoral de 2018.

    Como descreveu Lucius Afranius no século I a.C., os jovens não têm experiência e nem memória e por isso não são sábios, o que os leva a serem mais propensos a encantarem-se com alguém que lhes prometa uma Ilha da Fantasia, à la Jeremy Corbyn, onde benesses são distribuídas a quem não tem. Nos Estados Unidos, nas eleições de 2016, Bernie Sanders desempenhou esse papel, conquistando a maioria dos votos dos jovens americanos (mais de dois milhões deles nas primárias) mas a máquina política capitaneada pelos Clinton passou sobre ele como um trator e destruiu suas chances de ser o candidato democrata. Quem poderá ser o Tatoo da política brasileira, o personagem que dará as boas-vindas aos hóspedes da Ilha da Fantasia? E que tipo de Ilha da fantasia ele irá prometer aos jovens brasileiros?

    Essas perguntas são pertinentes considerando as palavras de Lula, que já se lançou candidato, depreciando Jair Bolsonaro, o maior expoente da bancada da bala no Congresso brasileiro. Talvez Lula considere Bolsonaro risível considerando sua própria história de vida, sua formação política na sombra da ditatura militar, sua participação na campanha das Diretas Já em 1984. Mas quem tem até 24 anos de idade nasceu em um Brasil em que as eleições acontecem normalmente, não sendo mais novidade. Apontar o fato de que Jair Bolsonaro é claramente um defensor dos militares que estiveram no poder de 1964 a 1985 não é tão relevante para esse grupo de pessoas quanto é para aqueles que têm alguma memória do período, seja porque já eram conscientes quando João Baptista Figueiredo era Presidente da República, seja porque tiveram pais que viveram nos anos 70. Se Lula puder ser candidato em 2018 e continuar batendo na tecla de que uma de suas credenciais para ser líder do povo é ter combatido a ditadura, ele corre o risco de fazer papel de idiota para a geração dos nem-nem, cujos problemas mais prementes são a falta de oportunidade de estudo e a falta de emprego, não a falta de eleições.

    Será que Bolsonaro apelará a essa faixa etária, prometendo-lhes esquemas de facilitação do primeiro emprego, empréstimos estudantis ou cotas nas universidades públicas? Ou ele acabará focando nos eleitores entre 25 e 44 anos de idade que correspondem a 42% do eleitorado e como têm mais a perder dos que os nem-nem querem mais é segurança? Menciono Jair Bolsonaro porque ele vem viajando pelo Brasil e fazendo comícios há algum tempo, e até o momento parecer ser o fato novo das eleições do ano que vem. João Dória, o prefeito de São Paulo, tem sido inflado pela mídia como o político da eficiência administrativa, mas será que ele tem carisma suficiente para criar uma Ilha da Fantasia aos olhos dos eleitores? Até outubro de 2018 poderá surgir um Tattoo na política brasileira a partir do local mais inusitado, a depender do que ocorra na economia. O que parece certo é que os políticos que até 2014 vendiam-se como legítimos democratas que ou combateram a ditadura, como Lula, FHC, Serra, Cristovam Buarque – para mencionar alguns candidatos a presidente nos últimos anos – ou estiveram relacionados de alguma forma àqueles que combateram a ditadura, como Geraldo Alckmin, herdeiro políticos de Mário Covas, ou Aécio Neves, herdeiro político de Tancredo Neves, em 2018 terão que remodelar seus discursos se quiserem ter uma chance. Atacar Bolsonaro como fez Buarque ao chamá-lo de excrescência da democracia não fará muito sentido para brasileiros cuja experiência da democracia não foi como uma conquista longamente almejada, mas como uma condição dada em que a corrupção, a irresponsabilidade fiscal, o baixo crescimento econômico e o desemprego são atualmente as características mais marcantes.

    Prezados leitores, os detratores de Jeremy Corbyn no Reino Unido reclamam do fato de que a nova geração que se encantou com as platitudes socialistas dele não terem noção do que foi o socialismo real nos países em que foi praticado. Talvez em 2018, os jornalistas brasileiros versados na história do país estarão denunciando aqueles que elegeram para presidente um candidato que relativiza a importância da democracia, que não a coloca como bem absoluto, como tem sido feito desde que voltamos a eleger nossos representantes. Veremos se um Tattoo surgirá no nosso cenário político.

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