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Natal e

Posted by on 08/01/2013

     Caros leitores do Montblatt, muitos de vocês já devemter picado a mula para as festas natalinas, seja subindo a serra para tomar a fresca em Petrópolis, ou cruzando a ponte Rio Niterói para a região dos Lagos. Antes de mais nada, para os que lerão nosso jornal renascido das cinzas agradeço àqueles que me acompanharam durante o ano e os comentários bons e ruins que fizerão a respeito dos meus artigos. Boas festas a todos!

     Mas para falar a verdade, rabugenta que sou, desde pequena nunca gostei de Natal. Lembro-me que aos oito anos escrevi uma redaçãoreclamando que as pessoas só pensavam em consumir e esqueciam-se do verdadeiro sentido da celebração. Bem, minha opinião continua a mesma até hoje, mas para dar-lhe mais substância, vou relacionar aqui as coisas que mais me irritam sobre tudo o que ocorre nesta época do ano.

       O simulacro de Europa nos shopping centers

      Todos aqui sabemos que o passeio preferido da nossa classe média são os shopping centers. Lá nos sentimos seguros e longe das pessoas indesejáveis. Por isso cada vez mais eles se transformaram em centros de lazer se não de cultura. Pois bem, ver aqueles trenós, aqueles Papais Noéis vestidos com os trajes típicos, os trenzinhos que circulam pelas montanhas, a neve caindo nos vagões é demais para mim, especialmente quando o calor lá fora no Brasil real e tropical é de 35 graus e sujeito a chuvas e alagamento das ruas sujas de lixo jogado pelas mesmas pessoas que querem ter um gostinho de Primeiro Mundo nos shopping centers.

      As poses ao lado do velhinho, asfilas para pegar o trem rumo à estação de esqui mais próxima, os pais sôfregos tirando fotos dos filhos com seus smartphones, I-phones, câmeras e o escambal, tudo me faz lembrar o quão macaquitos nós somos. Por favor, não me entendam mal, não quero que substitutam o Papai Noel pelo Macunaíma ou o Saci Pererê, afinal há toda uma tradição por trásdos mitos natalinos, mas toda essa frenética atividade que ocorre dentro de espaços fechados nas grandes cidades brasileiras me faz pensar na direta relação disso com a falta de locais de socialização fora das bolhas dos shopping centers. O fato é que a formação de guetos, dentro os que têm e fora os que não têm, contribui para a exclusão e para a criminalidade. A rua, o espaço público vira terra de ninguém. As praças, com honrosas exceções são tomadas por mendigos, os parques se transformam em passeio de pobre, e com eesa demarcação de territórios, as diferentes classes sociais deixam de conviver e cada vez se estranham mais. Quem dera um dia possamos chegar ao nível de civilidade de Buenos Aires, em que domingo no parque não é progrma de televisão, é realidade.

        A hipocrisia familiar

       Como diria Tolstoy, “Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”. Ou para sermos mais prosaicos, “Ema, ema, ema cada um com seus pobrema”. Claro que nenhuma família é perfeita e não se pode esperar que o seja, mas nesta época do ano todos se desejam saúde, felicidades, feliz Natal, com sorrisos tão largos, com tanta ênfase, que nem parece que durante todo o ano os familiares brigam por causa de dinheiro, por causa de obrigações comuns que ninguém quer assumir,e no dia a dia mal conversam de fato. Mas vá lá, o importante talvez seja que no final do ano revovam-se as esperanças, fundadas ou infundadas, de que tudo vai ser diferente, que seremos menos mesquinhos, mais tolerantes, mais compreensivos. Afinal a montanha de lembrancinhas, presentes, que trocamos entre nos mostra o quanto nos amamos e respeitamos, não é mesmo.

       Mensagens corporativas

     Fim de ano é a época em que as empresas mostram o quanto se preocupam com seus funcionários, distribuindo cestas de natal, participação nos lucros, décimo-terceiro, festas com comida e bebidas de graça. Mas tudo isso tem um preço, que é o ser obrigado a ouvir aquela mesma lenga-lenga dequanto somos importantes, quanto melhoramos e quanto ainda temos que melhorar, quanto economizamos e quanto ainda podemos economizar, quanto contribuímos para o sucesso da corporação e quanto ainda podemos contribuir… Ufa, cansei. Além do exercício passivo da escuta, tenho que me emocionar quando o chefe chora agradecendo o trabalho da equipe, achar interessantíssimas as palestras motivacionais que me enfiam goela abaixo no fim de semana para fechar o ano com chave de ouro e entrar com tudo no próximo. Enfim, o Natal é o período em que fingimos vestir a camisa da empresa e a empresa finge que nos vê como seres humanos e não, como diria o velho sapo barbudo, um fator de produção como outro qualquer.

       Queridos leitores, para surpresa de vocês, este meu Natal promete ser para mim um dos melhores que tive. Ao menos farei coisas diferentes: vou assistir à Missa do Galo no Mosteiro de São Bento, vou visitar o Parque Burle Marx e o Sesc Intelagos, onde há uma grande área florestal. Enfim vou tentarevitar tudo o que odeio no Natal: a hipocrisia, o consumismo e a empulhação. Se eu conseguir me livrar de apenas uma parte deste ranço já me darei por feliz e ficarei menos acabrunhada do que normalmente fico ao se aproximar o 25 de dezembro.

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