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Reacionários do mundo, uni-vos!

Posted by on 08/01/2013

                Eu descobri ontem algo muito importante a respeito da minha personalidade. Para falar a verdade eu já sabia disso, mas meu professor de Filosofia do Direito, que é marxista ferrenho, me fez ver demaneira inquestionáveluma verdade que para bem da minha honestidade intelectual devo compartilhar com meus leitores. Para que vocês entendam o que sou vou transcrever o quadro que ele colocou na lousa durante a aula:

Progressismo (crítica) futuro esperança
Reacionarismo passado ódio
Conservadorismo presente indiferença

                Tenho certeza que aqueles que me acompanham semanalmente saberão que me encaixo na linha dois, ou pelo menos saberão que minha rabugice é absolutamente incompatível com a linha um. Tendo vestido a carapuça de reacionária, eu só não me conformei com algumas omissões do meu competentíssimo mestre (realmente ele é digno de dar aulas num cursinho, algo fenomenal em uma faculdade em que a maioria dos professores não tem a mínima qualidade de palestrante).

                Ele falou do Francisco Franco, do George Bush e de Adolf Hitler como exemplos de reacionarismo, mas “esqueceu-se” de falar de outros tiranos igualmente famosos do século XX, entre eles Stalin, o pai dos Gulags, Mao Zedong, o mentor da Revolução Cultural, e Pol Pot, líder do Khmer Rouge, todos com um saldo de mortes na cada dos milhões de pessoas. Curiosa em saber como poderiam ser classificados esses três gênios do mal, eu me dirigi ao digníssimo professor ao final da aula e travamos o seguinte diálogo (P para professor e M para Maria Elisa):

M: Professor, como o senhor classificaria Stalin, Pol Pot e Mao Zedong? Eles podem ser considerados progressistas?

P: Stalin era um conservador.

M: Então ele não era progressista, apesar de pregar o marxismo e de se apropriar do discurso do progresso para reformar a União Soviética, é isso?

P: Stalin foi um progressista no começo, foi ele, não Churchill, quem derrotou Hitler, não se esqueça.

M: Com certeza foi ele. Mas o senhor não acha que é um passa-moleque dos marxistas dizerem que o Stalin era um conservador a despeito da sua mensagem flagrantemente marxista de luta contra a burguesia,de abolição da propriedade privada, somente porque ascoisas ao final não deram muito certo e Stalin foi denunciado pelo seu sucessor, Kruschev?

P: Havia pressões sobre ele.

M: O que o senhor quer dizer, pressões externas?

P: Sim, entre outros fatores.

M: Mas foi ele quem mandou os indivíduos do próprio país para o Gulag, não foram os estrangeiros.

P: Houve até agora no mundo uma única maneira tentada de criar o socialismo. O caminho correto ainda não foi descoberto.

(Fim da conversa)

                Meus caros leitores, meu objetivo aqui não é fazer uma comparação do número de mortos da direita e da esquerda, ou qual regime foi o mais bárbaro. Não tenho espaço aqui para analisar as condições históricas que levaram ao poder esse rol de psicopatas. Meu objetivo simplesmente é chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas por todos aqueles que quiseram reformar o mundo. Foi preciso matar e matar de maneira sistemática, para se livrar dos reacionários, dos burgueses, dos kulaks que não se enquadravam no padrão do novo homem. E mesmo assim, ao final todos esses sistemas desmoronaram.

                Não estou aqui a dizer que Marx tem as mãos sujas de sangue. Provavelmente ele se horrorizaria com tudo o que foi feito em seu nome. Mas não se pode negar que para uma reacionária como eu, a proposta do autor de O Capital e seu predecessor nesse otimismo existencial, o suíço Jean Jacques Rousseau, tem algo que para mim é completamente ininteligível. Para que o homem volte a ser feliz na civilização ou para que ele realize todas as suas potencialidades sob o socialismo, é necessário que mude de natureza. Para Rousseau a educação moldaria cada pessoa para se tornar generosa e desejar espontaneamente o bem comum. Para Marx, a superação das relações de produçãocapitalistas faria com que acabasse a exploração do homem pelo homem e chegaríamos a um momento da história em que “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”.

           Minha experiência de vida, particular e portanto irreproduzível, me impede de acreditar que o ser humano possa ser aprimorado. Acredito que haja uma natureza humana: não me perguntem se genética, espiritual, material ou sei lá o que, mas de qualquer forma ela nos faz sermos o anjo caído da metáfora religiosa. Este ser que tem seu lado negro da mesquinhez, da crueldade, da ganância, da inveja, da covardia e o lado brilhante do amor, da abnegação, da generosidade, da coragem. E acredito que em qualquer época, enquanto o ser humano estiver na Terra, haverá este embate entre a luz e as trevas, sem um vencedor defnitivo. Cabe a nós enquanto indivíduos e membros da sociedade, assumir a responsabilidade moral de tentarmos fazer com que a luz prevaleça, mas a luta é sempre incessante. Há momentos em que as circunstânciasmateriais conspiram para que as pessoas deem vazão a seus instintos mais baixos e há outros em que a paz, a harmonia florescem, e estaremos sempre presos a essa dinâmica.

             Querido professor,excelentíssimo Doutor em Filosofia Marx, caro Rousseau, perdoem-me, mas acho que há pessoas neste mundo que não podem e não querem ser educadas, há momentos em nossas vidas em que só pensamos em nós mesmos e em nosso entes mais próximos, e as alianças que as pessoas estabelecem entre si quase sempre se pautam por vínculos tão reacionários quanto os do sangue, da raça, da nacionalidade. Fundar a possibilidade de melhorar as condições de vida do homem na premissa de que somos reformáveis tem um quê de sinistro porque acaba levando a um controle demasiado sobre as pessoas para que elas se comportem da maneira adequada.

           Por isso conclamo os reacionários como eu, que não têm esperança que no futuro tudo será totalmente diferente, a saírem do armário e se unirem. Não para embuídos de ódio saírem à caça dos progressistas, mas para sugerirem com serenidade: que tal admitirmos que certas coisas não podem e não devem ser mudadas, e a única saída é fazermos o melhor com o que temos?

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