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Turista com muito orgulho

Posted by on 16/02/2014

                  Prezados leitores, não sei se vocês sabem, mas o turismo enquanto conceito nasceu na Europa para denotar as viagens realizadas pelos europeus que davam um giro pelos principais países do Velho Continente para aprimorar sua formação cultural e intelectual por meio do contato com diferentes formas de pensar, de ver, de sentir. Goethe foi um desses famososturistas, algo que pude comprovar hoje visitando o santuário de Santa Rosália, a santa padroeira de Palermo. Rosália Sinibaldi era uma nobre siciliana, descendente de Carlos Magno, que decidiu viver como eremita no Monte Pelegrino e acabou morrendo lá. Seus restos mortais foram achados em uma gruta no montee no local foi erigida uma igreja. Háduas placas, uma em italiano e outra em alemão, testemunhando a visita de Johann Wolfgang von Goethe ao santuário, quem sabe à espera de um milagre?Afinal, diz a lenda que a Santa salvou Palermo da peste, que grassava na cidade em 1624, e por isso é tida como protetora contra doenças infecciosas.

               Viram quantas coisas eu aprendi em uma única subida de morro? Consegui obter todas essas informações in loco lendo com certa dificuldade os textos em italiano. Além de aprender apreciei a paisagem, o céu aqui é de um azul cobalto, como os sicilianos dizem, sem uma nuvem no céu. Vi árvores e plantas que por razões óbvias não existem no Brasil, tive uma vista de 360° de Palermo, com a placidez do Mar Mediterrâneo ao fundo. Aliás, estes últimos dias têm sido um privilégio em termos de visitas a lugares espetaculares.

             Na terça-feira fui a Érice, uma pequena cidade encravada em uma montanhaque conserva a arquitetura original de tempos antanhos, especificamente da Idade Média.A vista do mar deveria ter sido maravilhosa, mas escolhi um mau dia para visitá-la, chovia, ventava e tudo estava envolto em brumas. Como sou adepta da filosofia do “se tiver um limão faça uma limonada” não me apoquentei com a crueldade climática e passeei pela cidade, ziguezagueando pelas ruelas absolutamente vazias. Vendem-se cerâmicas lindíssimas no lugar e pude olhá-las nas vitrines, mesmo com praticamente todas as lojas fechadas.Tudo é um primor, o modo como a arquitetura se integra com a vegetação, e como a modernidade se integra com o antigo, o conforto do século XXI em um cenário do século XIV.

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                 Na quinta-feira, tive uma sorte danada em termos de céu de brigadeiro e visitei Selinunte, onde há ruínas de uma cidade grega da época clássica, isto é, ao redor dos séculos quinto e sextoantes de Cristo. As escavações iniciadas em 1822 por dois ingleses, Samuel Angell e William Harris, permitiram que fossem reconstruídos alguns dos antigos edifícios ao menos em parte. O resultado é que vemos um templo completo com as famosas colunas dóricas, e no alto de um morro à beira do Mediterrâneo vê-se a parte dianteira da acrópolis. Realmente a combinação de arquitetura e paisagem é de tirar o fôlego especialmente considerando que nesta época do ano, devido às chuvas, há um sem fim de tons de verde que não fazem feio perante nossa luxúria tropical. E mais, sendo baixa estação havia uns gatos pingados ali, o que tornava tudo divinamente silencioso. Digo divinamente porque curtir o sol forte no inverno contemplando o belo sem ninguém matraqueando para lhe tirar a concentração faz o indivíduo chegar perto das estrelas.

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            No sábado foi a vez de Segesta, em que há um único templo dórico bem conservado, cuja construção foi iniciada em 416 antes de Cristo.Em compensação atrás dele há o vale de um rio que serpenteia lá embaixo entre dois paredões de pedra. Ouvir seu barulho cá em cima com o sol aquecendo-me foi uma experiência que tratarei de guardar em minha memória para os dias em minha vida em que estarei enfadada, triste ou irritada. É minha poupança emocional.

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             Prezados leitores, a essa altura devo confessar que nem sempre tive essa visão positiva da condição de turista. Em 1995, quando fui a Paris em pleno verão, senti-me uma otária perdida na multidão. Eu me irritava em fazer parte das massas que tiravam fotos sofregamente, que se acotovelavam nas atrações turísticas. Fiquei tão frustrada em ser mais uma que deixei de ir a alguns lugares porque não queria ser vista como turista, negava-me a vestir a carapuça. Eu preferia escrever cartões postais ao Brasil reclamando do calor e do populacho. O tempo, antes de nos matar nos muda, preparando-nos para a morte, pelo menos para aqueles que o aproveitam bem. Hoje tenho uma visão mais equilibrada, mais objetiva da minha posição no globo terrestre. A começar com o abandono da pretensão adolescente de ser especial. Sou uma turista como outros tantos bilhões de indivíduos que viajam pelo mundo e daí? Aprendi que é possível ter experiências incríveis em termos sensoriais, culturais e intelectuais, mesmo fazendo aquilo que todo mundo faz. Por outro lado, tomo precauções para não ser devorada pela multidão, como por exemplo viajar na baixa estação. Há grandes inconvenientes nessa escolha, por exemplo os horários limitados devisitação, o tempo ruim, as lojas fechadas, mas creio que evito muitos aborrecimentos causados por pessoas cujo único objetivo é tirar fotos para poderem colocar no facebook e acumular pontos nas suas milhagens aéreas e existenciais.

                Por tudo isso, digo que hoje, no meu quadragésimo segundo ano de vida, sou turista com muito orgulho.Não nego os inconvenientes: ficar carregando água e comida na mochila, estar sempre cansada de tanto andar, com a roupa amarfanhada e empoeirada, fazer cara de tonto quando não entende alguma coisa que lhe falam. Mas os inconvenientes são superados pela riqueza de experiências.Tenho em minha mente os cheiros, as cores, as formas que eu vi guardados em meus arquivos cerebrais. Terei mais termos de comparação para escolher o melhor lugar do mundo para passar uma tarde e uma noite de inverno, uma tarde e uma noite de verão. E poderei sonhar com o sol, o corpo de Deus vivo e desnudo, como dizia Fernando Pessoa, acalentando-me.Viva o turismo, praticado com respeito e moderação!

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