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Obama, o negro de alma branca

Posted by on 29/11/2012

         Prezados leitores do Montblatt, nesta semana de eleições municipais eu talvez como brasileira deveria estar aqui analisando os candidatos a prefeito da minha cidade, São Paulo, mas a verdade é que não tenho nada a acrescentar ao que o editor já falou aqui. Portanto, faço uma opção de falar das eleições presidenciais americanas, que ocorrerão em 6 de novembro. Haveria um motivo óbvio porque os Estados Unidos exercem uma grande influência no mundo e portanto nós, que historicamente temos estado sob as garras da água americana, devemos prestar atenção ao que ocorre lá. No entanto, tenho uma especial predileção por falar desse assunto porque eu sempre me espanto e me irrito com o fato de Barack Obama ser uma unanimidade para todo mundo, isto é, ele é sempre o mocinho da história. Como quem me lê sabe que sou rabugenta deixem-me desconstruir um pouco, nos limites dos meus poderes, a figura mítica do primeiro Afro-Americano que chegou lá.

         Por favor, não me entendam mal.Pensando como uma cidadã do mundo, a eleição do Prêmio Nobel da Paz seria menos pior do que a de Mitt Romney, pela simples razão que se o presidente americano é rendido ao lobby de Israel, o candidato mórmon é mais ainda, não perdendo nenhuma oportunidade de puxar o saco do Benjamin Netanyahu, o psicopata primeiro-ministro da Terra Prometida que não vai sossegar enquanto não conseguir arranjar uma guerra com o Irã. Como tenho medo de que isso deflagre uma Terceira Guerra Mundial, eu tenho a tênue esperança que Obama ao menos reflita um pouco antes de obedecer aos comandos dos falcões que querem a presença militar dos Estados Unidos em todos os recantos do planeta. É verdade que ele não fechou Guantanamo, como prometera, inteferiu na Líbia para depor Khadafi, que antes era amigo dos EUA, e está financiando os rebeldes na Síria por motivos muito mais escusos do que a defesa da democracia. De qualquer forma, a situação é tão dramática ante o imperialismo crescente dos Estados Unidos, na exata medida da sua decadência econômica, quepor mais que Obama tenha mudado muito pouco de fato a política externa americana, ele é menos histérico do que seria um republicano na presidência.

       Feita essa ressalva, dedicar-me-ei agora a levantar alguns fatos sobre a presidência do Senhor Barack para chegar a algumas conclusões sobre o que há de substância nas atividades presidenciais do príncipe Afro-Americano, eleito em 2008 com os votos de 96% dos negros americanos. Essa esmagadora adesão se deveu a uma identificação de raça que ele conseguiu de maneira brilhante consolidar ao longo de sua carreira política. Apesar de ter crescido com seus avós brancos e nunca ter vivido em guetos ou ter tido uma experiência real de vida em meio aos Afro-Americanos, Obama sempre se colocou como negro, beneficiando-se da boa vontade que isso poderia lhe angariar em nossos tempos politicamente corretos. Casou com uma negra 100% e fez largo uso do sistema de ação afirmativa para frequentar universidades de elite.Yes, we can, entoavam os negros em 2008 esperançosos com a possibilidade de ter um deles, mesmo que fosse um mulato, na Casa Branca. Infelizmente, os quatro anos da presidência de Obama não trouxeram nenhum benefício a seu eleitorado cativo.

         Em junho de 2012a taxa de desemprego dos Afro- Americanos era de 14,4%, face aos 11% dos latinos e hispânicos e aos 7,4% dos brancos. Em comparação com dezembro de 2008, o último mês final antes de Barack Obama adentrar o Salão Oval Oval Office, a taxa de desemprego dos brancos era de 9,2%, a dos negros era de 11,9%. Para resumir esses números pode-se dizer que um em cada sete Afro-Americanos está atualmente desempregado. Além disso, no período entre 2009 e 2011, os trabalhadoresnegros que ganham salário mínimo aumentaram 16,6%, ao passo que somente 5,2% mais trabalhadores brancos passaram a ganhar salário mínimo. Em suma, se havia uma desigualdade econômica e social entre negros e brancos antes de Obama ela só piorou sob seu reinado. As mazelas que atingem a comunidade negra ­ reveladas pelo fato de que menos de 40% das crianças negras viverem comambos os pais, de que as crianças negras tem sete vezes mais chance de ter um dos pais na prisão e de que mais de 70% das crianças negras nascem de mães solteiras­ continuam firmes e fortes. Os defensores de Obama dirão que tais problemas são seculares e ele não pode ser cobrado por isso. Oras bolas, mas o lema da campanha dele não era “Yes, we can!”?

       Bem, dirão os Obamites, Obamaé o presidente de todos os americanos, e sua principal façanha neste primeiro mandato foi a de assinar a lei que proporciona assistência médica a todos os americanos, indo contra a direita que quer cortar benefícios sociais. É verdade que agora a lei dita Obamacareprevê cobertura de saúde a todos, mas isso será feito obrigando todos os americanos (obrigar é a palavraporque haverá a fiscalização por parte de 16.500 funcionários da Receita Federal dos Estados Unidos, conhecida pela sigla IRS) a contratarem um plano de saúde privado. Isso vai dar de mão beijada às seguradoras mais 50 milhões de consumidores e o dinheiro que será descontado na fonte dos trabalhores servirá antes de mais nada para engordar os lucros dessas empresas e os bônus dos seus executivos. Se quiserem saber a quantas anda a medicina na terra do Tio Sam (e o que nos espera daqui a alguns anos, quando tudo estiver privatizado aqui no Brasil), leiam por favor o artigo deum médico oftalmologista americano, Robert Dotson, que fechou seu consultório porque as despesas com advogados, contadores e consultores necessárias para prestar contas aos planos de saúde e para se proteger contra ações judiciais são maiores do que os rendimentos cada vez mais magros (http://www.paulcraigroberts.org/2012/08/02/reflections-medical-career-robert-s-dotson-m-d/). Hoje nos Estados Unidos operar catarata em cachorro paga mais do que fazê-lo em um ser humano.

         Essas breves pinceladas no que foi de fato a presidência de Barack Obamapermitem ver como hoje é difícil termos líderes políticos que não sejam meras celebridades movidas a factóides. Longe do mito propagandeado pela mídia, este negro de alma branca continuou a política de George Bush de ajuda aos bancos e não fez nada para enfrentar os problemas estruturais da economia americana, a saber a desindustrialização do país devido à transferência da produção das multinacionais americanas para locais mais baratos principalmente na China e Índia. Mas a aura que se construiu em torno do príncipe será dificilmente destruída em vista da falta de alternativas. Entre o mórmon que quer intensificar ainda mais as ações militares do EUA no mundo muçulmano e o negro de alma branca que joga para a plateia de aficcionados, talvez a antipatia mútua entre o louco do Bibi e Obama seja o melhor que o mundo possa desejarneste momento.

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