browser icon
You are using an insecure version of your web browser. Please update your browser!
Using an outdated browser makes your computer unsafe. For a safer, faster, more enjoyable user experience, please update your browser today or try a newer browser.

Um Mundo que Cai

Posted by on 01/08/2016

Os piores medos da OPEP estão se tornando realidade. Vinte meses depois de a Arábia Saudita ter tomado a trágica decisão de inundar os mercados mundiais com petróleo, ela ainda não comseguiu quebrar a indústria do petróleo de xisto nos Estados Unidos. Os países do Golfo, liderados pela Arábia Saudita, com certeza foram bem-sucedidos em acabarem com uma série de megaprojetos globais em águas profundas. Os investimentos em exploração, produção e transporte de 2014 a 2020 serão 1,8 trilhão de dólares a menos do que se supunha anteriormente de acordo com a firma de consultoria IHS. Mas essa vitória é amarga, na melhor das hipóteses. Os exploradores de gás de xisto por meio de fraqueamento na América do Norte estão cortando custos de maneira tão rápida que a maioria deles consegue produzir a preços bem abaixo dos níveis necessários para financiar o estado de bem-estar social da Arábia Saudita e sua máquina militar ou para cobrir o deficit orçamentário da OPEP.

Trecho retirado do artigo “O petróleo de xisto do Texas lutou com a Arábia Saudita até imobilizá-la”, publicado por Ambrose Evans-Pritchard na edição eletrônica do jornal inglês Telegraph em 31 de julho de 2016.

Picture1
Foto tirada em algum lugar do Brasil e pulicada no Twitter

    Prezados leitores, devo informar-lhes que Carcará, Stavanger, Rio de Janeiro, Ghawar, Viena, Ryad, Texas, Brasília e Rio de Janeiro estão todos ligados. Não digo simplesmente que estejam conectados pela internet, mas o que ocorre em um local tem efeito sobre os outros, de maneiras inesperadas. É essa a verdadeira globalização, e não aquela de que falam abstratamente em artigos acadêmicos, jornais e revistas. A aldeia global se concretiza quando enxergamos as relações entre fenômenos aparentemente independentes entre si.Explico-me.

    A Petrobras acaba de divulgar que vendeu por US$ 2,5 bilhões sua participação no bloco exploratório BM-S-8, onde está localizada a área de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos. A venda para a estatal norueguesa Statoil faz parte da estratégia de desinvestimentos da nossa estatal, que pretende angariar US$ 15 bilhões de dólares no biênio 2015-2016 para diminuir o grande volume da dívida. Os noruegueses depois de refletirem muito na sede da empresa em Stavanger devem ter pensado ser um bom negócio comprar a preços módicos de uma outra estatal de petróleo que está em sérias dificuldades financeiras e precisa de caixa o mais rápido possível.

    O petróleo do pré-sal, que segundo consta no site da Petrobrás, custa 8 dólares o barril, é quase quatro vezes mais caro do que o petróleo produzido no maior campo convencional do mundo, o de Ghawar na Arábia Saudita, que produz 5 milhões de barris por dia a um custo que gira em torno de 2 dólares (não se sabe o número exato porque a estatal saudita, Saudi Aramco, não divulga). Esse preço divulgado pela Petrobrás para fins mercadológicos provavelmente é só o custo da extração, não levando em conta despesas de capital, tributos, custos administrativos e de transporte. Em julho de 2008 o preço do barril de petróleo atingiu 133 dólares e hoje gira em torno de 40 dólares (para ser exata, o preço de 29 de julho foi de 39,97 dólares).

    Em 2014, os países-membros da OPEP aumentaram a produção vertiginosamente com o objetivo, dentre outros, de que não tratarei aqui, de eliminar do mercado certos concorrentes, como os produtores de petróleo de xisto nos Estados Unidos que o retiram de rochas por meio do fraqueamento hidráulico. O que eles não esperavam é que os americanos conseguiriam aumentar vertiginosamente a produtividade desde 2012, de forma que em certos locais no Texas os custos de produção antes dos impostos já chegaram a 2,25 dólares por barril. Isso significa que o petróleo do pré-sal atualmente não é competitivo nem em relação ao petróleo do Oriente Médio, de fácil extração porque em terra, e nem em relação ao petróleo de xisto da América do Norte, pois inovações tecnológicas têm permitido que o fraqueamento consiga retirar cada vez mais óleo negro das rochas.

    Dessa forma, o cálculo dos noruegueses deve ter sido mais ou menos assim: vamos guardar Carcará como uma reserva para tempos melhores, comprando na baixa o ativo da Petrobras e vendendo a produção quando os preços aumentarem. Os noruegueses sempre pensam no longo prazo, estão juntando os ovos. E nós brasileiros? Bem, nós sonhamos e nossos castelos de areia foram levados pela marolinha. Em suma, nosso mundo caiu, parafraseando a grande cantora Maysa. Os noruegueses podem fazer sua poupança para desfrutá-la em tempos melhores, nós estamos sofrendo agora, com o desemprego, e a inflação, e sofreremos por mais alguns anos, as consequências dos sonhos desfeitos.

    O petróleo acima de 100 reais em 2008 permitiu a Lula nosso então presidente viver de otimismo, isto é manter-se no poder e eleger seu sucessor, e oferecer-nos otimismo. A esses preços estratosféricos, explorar o pré-sal era totalmente viável economicamente, e ainda havia uma gordura para políticas desenvolvimentistas, como a exigência de conteúdo mínimo nacional nas compras da Petrobras. Os custos poderiam até ser maiores em fabricar coisas no Brasil, mas ao final teríamos uma indústria naval renascida e uma cadeia de produção em torno do petróleo diversificada. Geraríamos empregos e um ciclo virtuoso seria iniciado. Por que não sediar os Jogos Olímpicos em 2016? Em 2 de outubro de 2009 quando o Rio foi escolhido, pensar grande, embalados pelas riquezas vindouras do pré-sal, era possível para nós brasileiros, e para Lula desejável, porque permitia a ele vender o seu peixe e o do seu partido e manter-se reinando em Brasília pessoalemtne ou por meio de sua “esquentadora de cadeira”, Dilma Rousseff.

    Bem, os países-membros da OPEP reunidos na sede da entidade em Viena têm decidido aumentar sistematicamente a produção: de acordo com o órgão americano de informações sobre energia, em 2014 os países do cartel produziram 37,46 milhões de barris por dia, em 2015 38,33 milhões, em 2016 39,38 milhões em 2017 prevê-se que produzam 40,22 milhões de barris por dia. Isso tem mantido os preços baixos devido à estabilidade da produção de países não membros do cartel. Para nós essas reuniões vienenses tiveram efeitos catastróficos. Tudo o que havia sido planejado e tinha começado a ser construído em função da exploração do pré-sal está ameaçado. O Comperj, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, um dos símbolos do renascimento industrial do Estado, está sendo reavaliado pela Petrobrás, o que significa que investimentos deixarão de ser feitos. Com preços do petróleo em queda não há receitas tributáveis, sem receitas tributáveis não há royalties, sem royalties, não há receitas públicas, sem receitas públicas, não se cobrem as pedaladas fiscais do governo carioca, que fica sem dinheiro para levar a cabo os Jogos Olímpicos.

    Prezados leitores, qual o melhor símbolo do Brasil neste período pós-hecatombe nuclear? O calçadão de porcelanato em Rio das Ostras, feito com o finado dinheiro do petróleo, ou os pneus velhos imitando o símbolo olímpico? A mania de grandeza ou o elogio da pobreza?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *